Por: Alexandre Mendes
O percurso do milharal a casa grande foi muito árduo para Alcebíades. Ele, um senhor de sessenta e dois anos, caminhando a passos largos pela estrada de terra: o capataz a cavalo, ele a pé. Sua botina fazia um ruído engraçado, devido ao suor. Sua respiração parecia mais um barulho de trem desgovernado e seu corpo transpirava horrores sob o sol de quarenta e cinco graus.
Após meia hora de viagem, os dois chegaram ao portão principal da casa. Olivença ordenou que Alcebíades parasse. Desceu de seu cavalo e o amarrou na cocheira. Alcebíades aproveitou e sentou no chão de terra: estava realmente cansado disso tudo.
- Levanta! - Disse Olivença, que não tirava a mão da pistola na cintura, nem por um instante. – O patrão quer falar com você.
- Você sabe qual é o assunto? – Perguntou o velho, ainda ofegante.
-Não sei, não. Isso é entre você e ele. – Respondeu o capataz.
Caminharam até a escada central. Olivença o mandou subir na frente, com a pistola na mão. Ele tinha ordens expressas de seu patrão para atirar em qualquer indivíduo que fosse contrário a suas ordens, dentro do perímetro da fazenda- seu reino- diga-se de passagem, o que significava para Seu Sebastião, a sua fazenda.
Subiram a escada de madeira da entrada principal: o ranger dos seus degraus era bastante sonoro. Se detiveram ao chegar em frente a porta dupla de madeira de lei. Os ornamentos da sua face externa eram maravilhosos. Olivença bateu a argola de um dos touros de prata, que encontravam-se encravados no centro superior de cada porta. O estalar da chave girando na porta, foi imediato. Uma senhora de estatura mediana, com um longo lenço colorido e desbotado, abriu uma das portas. – Entrem. O Sinhô quer ver vocês.
Adentraram o salão da casa pisando, estrondosamente, sobre o piso de tábua corrida. A poeira de suas botas fez uma trilha no caminho. Pararam em frente a uma porta de madeira. O azul da sua última pintura era quase invisível.
A velha empregada bateu na porta e aguardou a resposta. Uma voz aguda se pronunciou do interior do cômodo. – Entrem. – Alcebíades não teve dúvida: era a voz de seu senhor. Já tinha ouvido esse timbre de voz apenas duas vezes em sua vida. Uma vez, quando pediu abrigo e trabalho na fazenda, e outra, quando teve que clamar pela vida de seu filho, o inconseqüente Odimar. O rapaz, que naquela época tinha apenas dezesseis anos, havia sido condenado a castração pelo velho Sebastião. Seu crime: praticar sexo com os animais da fazenda. Alcebíades lembrou de como bebia pinga, durante aquele trágico período de sua vida. Seu filho lhe dera muito trabalho até aquele dia.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário