Por: Alexandre Mendes
O som das pegadas foi ficando cada vez mais audível para Alcebíades que, como uma barata acuada, tentava pensar em uma forma de se defender do perigo a vista. Olhou ao redor e encontrou um pedregulho próximo ao seu pé direito, camuflado pela palha que se espalhava pelo chão do celeiro.
Apesar da dor que sentia em seu braço quebrado, tomou fôlego e ergueu a pesada pedra com as duas mãos: o medo superava as dores que sentia naquele momento. Além de física, a dor também manifestava-se em sua mente. "Quantos anos de trabalho dedicado a essa fazenda!" - Pensou Alcebíades. - "Se este velho unha de fome está rico desse jeito, eu tenho minha importância nisso tudo. Aliás, não só eu, como toda a minha família foi importante para enriquecê-lo!"
Alcebíades lembrou-se de seu filho Odimar. O rapaz sequer teve a oportunidade de frequentar uma escola, quando menino. Mal começou a entender o mundo e, aos seis anos de idade, foi obrigado por Seu Sebastião a se separar de seus pais. O pastoreio das ovelhas, nos campos da Fazenda Pirucutú, era exercido tradicionalmente por menores de idade, filhos dos empregados de Seu Sebastião. Pirucutú era conhecida como a maior produtora de lã das cercanias e liderava o ranking de exploração infantil na região.
Como qualquer ser humano que sonha, o agricultor também sonhou um dia. Queria que seu filho se tornasse um homem "de letra"; usasse terno e gravata; chapéu de feltro e botas lustradas. E era sempre o mesmo sonho... Alcebíades está colhendo o café na plantação. De repente, a buzina de um carro importado -como um daqueles que Seu Sebastião possuía- tomava a sua atenção do serviço. Como uma criança que corre para o pátio, ao soar o alarme do recreio, Alcebíades largava a enxada e corria na direção do veículo. Dentro dele, Odimar no volante e Nonó no carona: sorrisos de orelha-a-orelha.
- Chega de sofrer, pai! Vou levar vocês pra cidade. De agora em diante, vou cuidar de vocês."
"AAAAAAHHHH!!! Como era bom sonhar com isso!" - Lembrou Alcebíades. Infelizmente, seu sonho um dia fora interrompido pela mesquinhez do velho fazendeiro que costumava dizer: - Nasceu ou mora aqui: é meu!" - Os pensamentos fluíam na cabeça do velho, fortalecendo-o na proeza que se dispunha a cometer no portão daquele celeiro. Encostou o corpo na lateral de madeira, com as mãos erguidas sobre a cabeça: a porrada deveria ser certeira.
O estalar das chaves no cadeado foi sucedido pela abertura do portão. A sombra estampada no interior do celeiro indicava um homem jovem adentrando o cômodo.
PLOC! O golpe fora desferido por Alcebíades. A testa de Olivença ficou parecida com as cataratas de Nova Iguaçú. O sangue escorria em volta dos olhos. O capataz ainda teve tempo de olhar para Alcebíades, que lamentava a dor no braço quebrado. Tentou sacar a arma, mas a escuridão tomou a sua visão. Com uma rodadinha de cinema, caiu aos pés de Alcebíades.
Será que Olivença partiu para a cidade do pé junto? E Alcebíades? Buscará a vingança? Ou irá pedir perdão da merda que fez na cabeça do jagunço, na Igreja Universal mais próxima?
Fique esperto e não perca o próximo capítulo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário