sábado, 28 de maio de 2011
Por: Alexandre Mendes
Não demoraram muito tempo conversando, pois sabiam que o pessoal da fazenda viria atrás deles.
Odimar entrou na casa e enfiou na sacola velha tudo o que pode carregar de sua casa. Ele ainda trazia consigo a pistola e, as vezes, mudava a ferramenta de lado na cintura, para não incomodar tanto durante o percurso da fuga. Guardou o facão em uma cinta velha de couro que encontrou no meio da bagulhada. Ela havia sido de Estênio, filho único de Seu Sebastião. Odimar lembrou bem o que passou nas mãos de Estênio, enquanto prestou serviço para a Fazenda Pirucutú. O filho do velho gostava de ir a cavalo até os pastos da fazenda, onde só havia ovelhas, crianças e carrascos. Possuía um chicote de couro e quando cismava com um dos moleques, metia a chicotada. Certa vez, o próprio Odimar foi surrado pelo chicote de Estênio. Levou vinte chibatadas nas costas, amarrado em um pé de goiaba nos fundos da fazenda. Foram noites difíceis de dormir, pois suas costas ficaram em carne viva. O único auxílio que teve de Seu Sebastião foi a permissão de lavar as feridas duas vezes ao dia. As marcas na carne ainda estavam lá, trazendo a triste lembrança do episódio.
Odimar levou um susto quando chegou a conclusão de quem iria assumir o controle da fazenda, após o enterro de Seu Sebastião: O filho monstro do velho canalha, Estênio.
Arrumaram as tralhas, amarradas sobre o dorso do cavalo, pois decidiram ir a pé até onde aguentassem, enquanto o cavalo levava as ferramentas, os trapos e as bugigangas.
Visualizaram o horizonte a procura de orientação. Concluíram que se seguissem em direção a oeste, por uma trilha antiga, existente próximo a cabana, chegariam a cidade de Chiponápolis. O local parecia ser uma boa opção de refúgio para eles. Nonó lembrou dos cem reais que estavam com Odimar. – Vamos para Chiponápolis. Lá, a gente encontra um lugar confortável para dormir.
Alcebíades conhecia bem a cidade, pois trabalhara durante um certo tempo na Feira do Centro. Trabalhara ali dos oito aos vinte anos, vendendo aipim na barraca de Seu Santino. A merreca de salário que ganhava, ajudava no sustento da casa de Dona Feliciana, viúva que cuidava dos órfãos da seca que apareciam perambulando pela cidade. Era ele e mais doze meninos e meninas, quase todos empregados na Feira do Centro. Dona Feliciana tinha o apoio do pequeno comércio da região. Alcebíades sentiu-se bem em saber que iria visitar o local e, quem sabe, matar saudade dos velhos amigos. Mas sentiu, ao mesmo tempo, uma pontada no coração, pois lembrou que a casa onde morava quando criança não existia mais. Com o modesto crescimento da cidade, sua casa foi demolida e no lugar, construíram um posto de gasolina.
Caminharam quatro horas sem parar pela trilha oeste e já demonstravam cansaço. O cavalo colocava a língua para fora, parecendo sedento.
Em diversos pontos da trilha, Odimar teve que usar o facão para diminuir o capinzal e isso o havia deixado muito cansado. Chegaram até uma clareira provavelmente feita a facão por alguém que estivera ali, há pouco tempo atrás. As cinzas e restos de cascalho acusavam uma fogueira feita bem no centro da clareira.
Antes que escurecesse, Odimar limpou o resto do terreno com o facão, a pedido de Nonó, para que pudessem passar a noite no local. Enquanto isso, ela e Alcebíades foram juntar folhas e cascalhos secos no entorno da clareira.
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