Por: Alexandre Mendes
Era exatamente três horas da tarde. Aguardava a chegada do ônibus no ponto, observando as nuvens que se formavam no céu. Meu corpo cansado, depois de uma manhã inteira de trabalho, bamboleava pedindo um belo almoço e uma cama. O local onde eu estava é considerado um centro comercial, margeado por favelas de todos os lados. Os transeuntes e clientes desse centro são na maioria, moradores dessas comunidades. Os trabalhadores locais que moram em outras regiões estão em menor número, mas quando somados a maioria que perambula pelos bares e lojas locais, naquele horário, fazem lembrar um formigueiro.
De repente, a minha distração com as nuvens foi interrompida por uma cena inusitada que se desenrolava na minha frente e na de centenas de pessoas que transitavam por alí. Um jovem que se encontrava abraçado em um poste, com todas as suas forças, implorava pela sua vida. Enquanto isso, cerca de seis homens o surravam severamente, tentando levar o rapaz para outro lugar. Uma aglomeração de observadores se formou ao redor, mas, como a maioria daquele público já está acostumado com aquele tipo de situação, dentro de suas devidas comunidades, nada fizeram. Aliás, a multidão só parou para observar porque alí é o centro. Quando esse tipo de coisa acontece dentro da comunidade, o morador normalmente finge que não está vendo.
A minha pressão sanguínea começou a ficar alta e fui impelido a acender um cigarro: Um dos homens achou um paralelepípedo perdido dentro de um canteiro próximo e começou a bater no rapaz com ele. Foram dezenas de pancadas com a pedra na cabeça, nuca, costelas etc. Parecia não adiantar de nada, pois a vítima, que já expelia sangue pela boca em abundância, ainda implorou por um bom tempo que não o matassem. Uma ideia maligna de seu carrasco pôs fim a questão: Uma pancada muito forte em seu pé descalço o enfraqueceu completamente, fazendo com que largasse o poste. Os homens enfiaram o rapaz em um carro e partiram na direção de uma das favelas próximas.
A essa altura, eu já tinha perdido o sono e acendido o segundo cigarro. Após o ocorrido, fui informado por um conhecido que passava, que a vítima foi acusada de "dar volta" nos outros, dentro da comunidade onde mora.
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