O COLETIVO ZINE É UMA AÇÃO CONJUNTA. A PROPOSTA É REUNIR DIVERSOS FANZINEIROS OU CRIADORES INDEPENDENTES E PRODUZIR UM TRABALHO COLETIVO. CADA PARTICIPANTE CONTRIBUI DA FORMA COMO PUDER, SEJA NA CRIAÇÃO, MONTAGEM, EDIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, DIVULGAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO. O IMPORTANTE É SOMAR ESFORÇOS. E ASSIM MULTIPLICAR A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CADA AUTOR E DIVIDIR O TRABALHO. SE DER CERTO,CONSEGUIREMOS CHEGAR A NOVOS LEITORES QUE JAMAIS CONHECERIAM NOSSO MATERIAL SE O PROMOVÊSSEMOS ISOLADAMENTE. E NA PIOR DAS HIPÓTESES, AO MENOS TEREMOS UMA DESCULPA PARA INSANAS FESTAS DE CONFRATERNIZAÇÃO E LANÇAMENTO DE ZINES. ENTÃO, MÃOS À OBRA. MISTURE-SE.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Fragmentos II

Por Fabio da Silva Barbosa
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Ele disse que não foi ele, enquanto a mão voava em sua cara.
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Com muita arrogância, proferia a humildade.
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Ia cantando com a pesada trouxa de roupas na cabeça. Depois de esfolar os dedos na pedra, voltava cantando com a trouxa mais pesada ainda.
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Sem saber a finalidade, reproduziu as mentiras que lhe foram impostas. Questionar era muito perigoso.
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Ligou o aparelho de lavagem cerebral e ficou babando verdades mentirosas.
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O caminho de barro ficava ainda mais longo em dias de chuva.

Fragmentos

Por: Fabio da Silva Barbosa
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E a mulher louca ficava pelas esquinas gritando coisas que ninguém entendia. Seu discurso indecifrável chamava a atenção de quem passava.
O povo pobre continua a sofrer e a morrer, mas não existe mais a resignação de antes. E antes existia? Será mesmo?
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A prostituta pega o caralho triste entre as mãos e avisa:
- Desse jeito você não vai aproveitar o que pagou.
Ele contorcia o rosto em dor e tristeza:
- Você me perdoa?
- Acontece.
- Não é disso que estou falando.
- Do que é?
- Nada. Esquece.
- Você é estranho.
- Me desculpe.
- Não tem problema. Gosto de pessoas estranhas.
- Não é disso que eu tô falando. 
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O pássaro voava livre, até ser alvejado por um demente.
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Velhas lembranças e novas ideias se dissolvem em ácido.
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Ai que vontadezinha gostosa de dar um tiro na cabeça.
É só uma piada.
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Todo mundo sabe, ao mesmo tempo que ninguém sabe nada.

lançados ao azar

Por Fabio da Silva Barbosa
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crianças e adolescentes completamente abandonados
miséria por toda parte
muitos semi-analfabetos ou analfabetos funcionais
nenhum futuro e um passado de terror  
revolta incompreensão solidão
só cobranças de quem nada faz
mas como cobrar de quem sofreu toda privação
não suporta mais abusos nunca viu afeto
aí se cria o futuro do país do planeta da humanidade da civilização
os civilizados já chegaram barbarizando os chamados selvagens
continuam a matança nos dias de hoje
é porrada de todo lado
criam seres destruídos
não há espaço para amor quando se afoga em tanta merda
tudo é uma desgraça
estão criando gerações de ódio cristalizado para depois o engravatado mandar prender bater matar
são os catedráticos da hipocrisia querendo determinar o que é pior para a maioria
nada faz sentido
assim não vai dar
quando pularem o muro nada vai parar 

Olhos tristonhos

Por Fabio da Silva Barbosa
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conheci outras
outros olhos e olhares
cada um de sua maneira
a me interessar
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mas foram seus olhos tristonhos
toda raiva
toda ira
que conseguiram me pegar
 .
olhos tristonhos
em desequilíbrio a balança
olhos tristonhos
só há ódio e vingança
 .
suas lágrimas negras
como nanquim vai pintar
não pensa em existir
quando isso vai acabar
 .
já não sofro tanto mais
a dor vai endurecendo
o coração já pouco humano
a maldade desesperando
 .
olhos tristonhos
não escondem sua beleza
olhos tristonhos
desconhece a própria natureza
 .
olhos tristonhos
olhos em desespero
a vida sem sentido
a vida sem tempero

olhos furiosos

Por Fabio da Silva Barbosa
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conheci uma menina
que apesar da pouca idade
não conseguia mais dormir
não tinha onde ir
 .
olhos furiosos
pra onde você vai
olhos furiosos
não entendem o que você faz
olhos furiosos
não me deixe sem você
olhos furiosos
o que podemos fazer
 .
a vida é o calvário
amargura e sofrimento
querem te prender
numa parede de cimento
 .
olhos furiosos
vão nos afastar
olhos furiosos
não deixe que te matem
olhos furiosos
por que tudo tem de ser assim
olhos furiosos
não vá acabar
 .
sei que vai sumir
mas nunca esquecerei
sempre você
sempre torcerei
 .
olhos furiosos
não pare de lutar
olhos furiosos
não vá se entregar
olhos furiosos
não vá me esquecer
olhos furiosos
não aguento mais sofrer 

matança imposta

Por Fabio da Silva Barbosa
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cercados pela desgraça
perseguidos pelo inferno
marginalizados pelo sistema
mantidos na miséria
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odiando a si próprio
não conseguindo suportar
levando só porrada
não consegue caminhar
 .
é a grande maioria
vendo o muro exclusor
cercando e matando
só a dor só há dor

Medo

Por Fabio da Silva Barbosa
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todos os dias bombas nucleares explodem sobre suas cabeças
o genocídio é contínuo
barracos de caixote
fome e repressão
surra de telha
surra de pau
medo da vida
vida mundo cão

Mortes, injustiças e inferno na Terra

Por Fabio da Silva Barbosa
É camelô sendo morto, famílias sendo escorraçadas de suas moradias, o sistema sempre favorecendo a quem tem mais do que precisa para viver… E o cara que se aborrece é perseguido, preso, torturado física, moralmente e mentalmente, lançado em calabouços tristes e infectos.
Mas eles dizem: Você pode votar. Estamos em uma democracia. Está tudo melhorando. … Eu pergunto então: Melhorando para quem? Que democracia é essa? Votar em que ou quem? Para onde estamos caminhando? Até onde isso tudo vai? Acreditar em que ou quem? …
E o trabalho de cegueira coletiva continua. O trabalho de manutenção das coisas como estão persiste cada vez mais elaborado. Mas já não é possível tapar o Sol com a peneira. Não se pode mais viver acomodado, olhado para o próprio umbigo e fingindo não ter nada com isso. Os respingos da merda estão por toda parte e não há mais como ficar limpo. Todos somos partes, responsáveis (querendo ou não) e ocupamos nosso espaço no vácuo.
Embora alguns ainda se esforcem para manter posturas insensíveis e indiferentes, já não é mais possível. A meritocracia é uma farsa, escolher quem vai tomar as decisões que deveriam ser nossas não é o suficiente, ficar submisso a quem tem a pretensão de saber o que é melhor para a gente não é, no mínimo, digno.
“Já fazia muito tempo que assim não dá mais pra ficar”*
*Rubem Zachis