Por: Alexandre Mendes
Argumento: Fabio da Silva Barbosa
Antes de ir, Alcebíades entrou no mato para satisfazer suas necessidades fisiológicas.
Odimar verificou a pistola e a colocou no lado direito da cintura. Limpou a lâmina do facão, com um trapo velho e o amarrou do lado esquerdo.
Alcebíades levou o trinta e oito com ele. “Só Deus sabe, o que me espera dentro do mato!” – Pensou o velho, com o revólver na mão.
Nonó acordou com o barulho que os dois faziam. Viu seu filho, guardando os objetos no lombo do cavalo. Ela estava morrendo de sede. Levantou mancando, por causa da mordida da cobra na perna e se aproximou de Odimar.
- Meu filho, eu tive um pesadelo horrível! Cadê o seu pai?
- Ora, ele está aqui. – Disse Odimar, apontando para o canto da mata.
-Onde? - Nonó não via Alcebíades, mas o escutava, como se estivesse saindo de dentro do mato. Fixou os olhos na direção da voz e seu coração palpitou muito forte, quando o capim se abriu e, de dentro dele, saiu o seu marido. Estava delirando.
- Meu bem, deite-se! Você precisa repousar! – Disse Alcebíades, colocando o revólver na cintura.
A mulher enlouqueceu. Tentou correr, mas Odimar a impediu, segurando a mãe pelo braço. Nonó encarou o filho e parecia ver uma assombração.
- Quem são vocês? Cadê minha família? AAAAAAAAAAAAA! – gritava Nonó, enquanto tentava se libertar das mãos de Odimar, que agora tentava lhe dar um abraço. A pobre mulher despencou nos braços do filho: um desmaio. A febre estava aumentando.
Odimar posicionou sua mãe, deitada de barriga para cima e amarrada no dorso do animal. Improvisou uma almofada para ela, com uma trouxa feita de trapos velhos.
Estava tudo pronto. Alcebíades pegou o animal pela rédea. Jogou o último gole de água do cantil, na boca de Nonó.
Odimar foi na frente, com o facão em riste, aparando o matagal.
Caminharam por horas a fio, podando o mato em revezamento. As gargantas secas como a brisa da manhã.
Os pássaros cantavam, enquanto o sol subia no céu. “Vai fazer um calor daqueles!” – Pensou Odimar. Eles quase não se falavam, para poupar a saliva que já não tinham.
Quando o sol chegou no centro do céu, indicando meio dia, Odimar tinha certeza que já estavam próximos de Chiponápolis.
Enquanto isso, Nonó despertava do sono. Começou a balbuciar coisas sem sentido.
- São Cosme e São Damião... cadeira, cachorro, pedrinha!
-Mãe! Fique tranqüila que já estamos chegando! – Disse Odimar, enquanto aparava a mata.
- O ônibus pra Rivadávia...mato da porteira... a cor do peixe é azul...
Caminharam por mais umas três horas e, finalmente, chegaram a entrada de uma depressão. Podiam ver, de onde estavam, as primeiras casas surgindo no horizonte.
- Estamos chegando, Filho! Estamos chegando! – Disse Alcebíades, visivelmente emocionado.
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