Por: Alexandre Mendes
- Pai! O que o senhor faz aqui? - Indagou o homem da cabana, boquiaberto. Sua barba era grande e negra. Seus cabelos eram castanhos e cumpridos, presos por um elástico amarrado. Sua face, enegrecida pela fuligem, era iluminada pelas brasas da fogueira.
- Odimar, meu filho! - Alcebíades apressou-se em abraçar o filho desaparecido. As perguntas, naquele momento, ficaram para trás. Estavam há três anos sem contato algum. Não se comunicaram nem por carta, pois sabiam que a correspondência de todos os empregados da fazenda, só chegavam na sede e, então, eram violadas por Seu Sebastião.
Alcebíades contou tudo o que acontecera com ele, desde quando saiu de casa, na manhã do dia passado. Odimar lamentou o tempo em que esteve longe de seus pais. - Quantos dias se passaram e eu aqui, longe de vocês...Que saudade, pai! E a minha mãe, como está?
- Ah, meu filho! sua mãe nunca mais foi a mesma, depois que você partiu. - Lágrimas semi-secas desceram pelos olhos do idoso.
- Vem comigo. Vou pegar água para o senhor se lavar e trazer roupa limpa. - Disse o rapaz, feliz em ver o pai, mas triste pelos problemas que a família ainda haveria de passar naquele fim de mundo. Alcebíades foi conduzido por Odimar até os fundos da cabana e se lavou com a água armazenada em um galão de margarina enferrujado. O filho lhe trouxe um pano para se enxugar e deu-lhe um trapo velho e remendado para vestir, o qual ousou chamar de roupa limpa.
Adentraram a cabana e Alcebíades deitou na esteira de palha carcomida, o lugar mais confortável para se dormir no cômodo. Odimar imobilizou o braço quebrado de seu pai, com duas lascas de pau e uma tira de gaze velha. A essa altura, Alcebíades roncava como uma leitoa prenha. Tudo o que passara nas mãos do velho porco capitalista e seu capacho foram demais para seu corpo cansado.
Teve um pesadelo terrível e seu coração bateu mais forte. Saltou da esteira e, para sua surpresa, o dia já havia amanhecido.
-Odimar! Odimar! - Gritava o velho: - A sua mãe está em perigo!
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