quinta-feira, 2 de junho de 2011
Por: Alexandre Mendes
Os dois tinham a intenção de fazer uma fogueira. Nonó ainda estava um pouco afoita, com tudo que havia acontecido. Falava sozinha enquanto catava os gravetos: - Que azar o nosso! Puta merda! Maldito coronelzinho...Filho da puta! – Odimar nunca havia ouvido a sua mãe falando tantos palavrões. Ela havia começado a falar dessa forma, depois que Odimar fora embora. O problema era com Alcebíades. A cachaça tinha tomado conta do seu tempo livre. Nesse tempo, Nonó achava monótono ter que carregar o bebum até a esteira. Fazia gestos estranhos, conversando consigo mesma. Era a sua única distração: debater a vida com o vento.
Alcebíades olhava para ela e meneava a cabeça, como quem dizia ser o culpado daquilo. Já havia parado de beber, há muito tempo, mas os vestígios do vício deixaram marcas em Nonó.
A última garrafa de cachaça ainda estava pela metade, entretanto, usavam-na agora somente para desinfetar feridas e fazer fogo.
O casal terminou de preparar a fogueira, no mesmo momentoem que Odimar acabou de limpar o terreno. O rapaz pegou o isqueiro e a cachaça do seu velho pai. Sacou a rolha com os dedos e deu uma golada na maldita. Jogou o liquido nas folhas, envoltas nos gravetos e colocou fogo. Apesar do último período de chuva ter acabado, há pouco tempo, e do mato ainda estar alto, a secura das plantas já começava a ficar visível. O verde era severamente consumido pelo sol quente. Foi fácil, portanto, acender a fogueira. O temor de que a fumaça chamasse a atenção dos bandidos tomou conta deles.
Decidiram fazer um revezamento de vigília, enquanto descansavam. Odimar destravou a pistola e explicou como ela funcionava para os pais. Ele já havia visto Seu Sebastião treinando tiro ao alvo na fazenda Pirucutú. Decorou todos os movimentos feitos pelo velho, no manejo da semi-automática, enquanto apascentava as ovelhas. Lembrou da correria dos animais com o estrondo dos tiros e, de como ficava cansado com isso.
Alcebíades pegou um pequeno graveto do solo e o dividiu em três pedaços diferentes, posicionando as pontas no punho fechado. Nonó escolheu primeiro e se deu mal, pois pegou o pedaço menor.
- Deixa pra lá, mãe. Eu fico de plantão. Pode dormir. – Disse Odimar, com as pálpebras pesadas.
- Não, meu anjo! Pode ir dormir! Eu cuido da gente. Nunca mais te vi dormir. Pode deixar que eu fico aqui
Muito contrariado, Odimar deitou-se ao lado de seu pai, com o trinta e oito na mão e a cabeça repousada na sacola improvisada como alforje.
Nonó sentou-se no monte de palha reservado para abrasar a fogueira. Com a pistola segura entre as duas mãos, vigiava o horizonte coberto pela palha seca, clareado pela luz do fogo. Seus pensamentos se afastavam da realidade, devido ao cansaço que tomava conta do seu velho corpo. A tristeza de ter deixado a sua casa e tudo o mais, para trás, não a incomodava mais. “A família está junta, novamente.” – Pensava ela, demonstrando-se satisfeita com o fato.
A madrugada se aproximava rapidamente e o céu se enchia de estrelas. Nonó tentava manter-se acordada. Alcebíades e Odimar roncavam em um ritmo cadente.
Um farfalhar no mato cortou o canto dos grilos e o ronco dos dois. Uma pequena cabeça de cobra despontou do interior da palha seca, a qual Nonó estava sentada. Seus olhos arquejavam, denunciando o cansaço e impedindo sua atenção. Agora, era tarde demais. A cobra já a observava. Estava bem próximo a ela.
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