O COLETIVO ZINE É UMA AÇÃO CONJUNTA. A PROPOSTA É REUNIR DIVERSOS FANZINEIROS OU CRIADORES INDEPENDENTES E PRODUZIR UM TRABALHO COLETIVO. CADA PARTICIPANTE CONTRIBUI DA FORMA COMO PUDER, SEJA NA CRIAÇÃO, MONTAGEM, EDIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, DIVULGAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO. O IMPORTANTE É SOMAR ESFORÇOS. E ASSIM MULTIPLICAR A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CADA AUTOR E DIVIDIR O TRABALHO. SE DER CERTO,CONSEGUIREMOS CHEGAR A NOVOS LEITORES QUE JAMAIS CONHECERIAM NOSSO MATERIAL SE O PROMOVÊSSEMOS ISOLADAMENTE. E NA PIOR DAS HIPÓTESES, AO MENOS TEREMOS UMA DESCULPA PARA INSANAS FESTAS DE CONFRATERNIZAÇÃO E LANÇAMENTO DE ZINES. ENTÃO, MÃOS À OBRA. MISTURE-SE.

sábado, 22 de setembro de 2018

Brasa mórbida


Por Fabio da Silva Barbosa

Assisti seu corpo caindo de cara no chão
Vi sua mente dilacerada
sem reconhecer o irmão

O frio bate forte
nessa cidade triste
sem espaço para mim ou você

Percebi quando mataram aquele pequeno bebê por ser um índio
Fechei os olhos para não ver o espancamento do pedinte
Tentei me enquadrar, mas o cheiro de sangue não permitia

Não consegui absorver
a crueldade
do bem sucedido

Não quero participar de mais este linchamento
Não quero me preencher com todo excremento
Não posso ser mais um isento

Assisti aquela menina
se deteriorar em todo caos
enquanto ordinários assinavam novas leis

O garoto dorme novamente com fome
O homem vira fera
pior que o lobisomem

As flores estão murchas
e as frutas podres
como todas estas mentes torpes

As pessoas agem como se estivesse tudo certo
A ignorância é o passe para o cidadão de bem
Seja parte e se torne um inseto

Que os insetos me perdoem

Cercados pela desgraça


Por Fabio da Silva Barbosa

Você volta tão frágil
da  clínica de reabilitação
É tanta tristeza em seus olhos
na face a dor da solidão
Não há remédio que cure
tanta desilusão
Não há mente que suporte
esse mar de frustração  
E o corpo implode
diante de tanta punição
Expressões contorcidas
demonstram o caminho percorrido até então
É mais que desgosto
dessa flagelação
Só nos resta sentar juntos
e fazer destas lágrimas o nosso pão
Se não tem como te proteger
que soframos juntos então

Dança Urbana


Por Fabio da Silva Barbosa

Foi só o sinal ficar verde, liberando a passagem dos carros, que ele se pôs a caminhar no meio da rua. Deu um salto da calçada, caindo já andando pelo asfalto. Se inclinou para frente deixando passar um carro e retrocedeu dois passos para não ser atingido por outro. Os veículos passavam em alta velocidade. Rodopiando entre os automóveis que vinham acelerados, chegou ao outro lado.
Um pedestre que assistia a cena, falou em tom de brincadeira:
- Quase amassou o carro dos outros, rapaz.  
Ele olhou satisfeito e deu um sorriso:
- Sempre faço essa dancinha. Você tem de ver no cruzamento da avenida. Dou um show.  

Eu, Princesa e Papai


Por Fabio da Silva Barbosa

Todo dia venho vê Princesa. Ela tá sempre ali esperando.  Conheço bem aquelas patinha pro alto.
Um dia, tinha uns menino jogando pedra pra vê se a barriga dela explodia. Fiquei braba e botei todo mundo pra corrê. Se eu pego, arrebento.
Já chega o que ela sofreu lá em casa. Papai disse que ela pegô ziquezira. No fim, ela já nem andava mais.
Um dia, Papai pensô que eu tava dormindo e foi pro quintal. Esperei um poco e fui atrás. Ele tava com um saco na cabeça da Princesa e apertava o pescoço dela. Ela só tremia a perninha. Voltei pra cama assustada.
Por que Papai tava fazendo isso com ela?
No dia seguinte ele me acordô cedo pro colégio. Tava com cara triste. Corri pro quintal, onde  Princesa costumava ficá. Ela não tava.
- O que aconteceu com Princesa?
- Não sei, minha filha. Acho que fugiu.
Papai respondeu de cabeça baixa. Acho que desde que mamãe foi embora de casa ele não ficô tão triste. Ele também gostava muito da Princesa. Ela sempre esperava ele chegá do trabalho. Quando via ele vindo na estradinha, ia correndo pulá na perna dele, sujando a calça de barro. Papai gostava daquela festa. Eu vinha logo atrás e pulava nele, agarrando no pescoço. Papai era forte e guentava nós duas fazendo festa. 
- Mas ela tava doente que não conseguia nem andá.
- Deve tê melhorado e fugiu no meio da noite. Vamo logo pra você não chegá atrasada.
Ele me deu a mão e fomo em silêncio pela estradinha. Chegamo na pista e atravessamo a primera parte dela. Tinha um rio que separava a primera parte da segunda. De cada lado o carro ia numa direção diferente. Vi que Papai acelerô o passo e resmungô alguma coisa quando passamo pela ponte. Acho que era pra prestá atenção na aula e voltá direto pra casa sem ficá me distraindo pelo caminho.
Na volta, pulava pela ponte olhando as coisa que passava boiando por baixo, como fazia sempre. Mas, dessa vez, quando olhei pro rio, vi as patinha dela pro alto. Era princesa. Eu tinha certeza.
Naquele dia papai voltô bêbado pra casa. Não conseguiu acordá cedo pra me levá pro colégio. Levantei atrasada e fui correndo.  Ela ainda tava lá.
A cada dia que passava, a barriga dela tava mais inchada. Devia tá bebendo muita água. Um dia gritei pra ela se virá.
- Virá a cabeça um poco pra fora dágua.
Ela nem se mexia. Ficava lá, com as patinha pro alto. De vez em quando parecia que eu via a patinha dela tremê, igual naquele dia que Papai apertô o pescoço dela.    
Papai nunca mais foi do memo jeito. Ficô pió de quando mamãe sumiu junto do vizinho. Ele nunca mais me levô pro colégio e todo dia chegava tarde e bêbado.
Pelo menos eu ficava ali olhando Princesa. Cuidando dela de longe. Se a água do rio não fosse tão suja, eu decia lá pra pegá ela. Fazê um carinho naquela barriguinha inchada dela. Mas só o chero daquela água fazia mudá de ideia. Podia pegá ziquezira e depois Papai ia tê de apertá meu pescoço tamém.
Um dia a chuva veio forte. A água do rio tinha subido e levava tudo pela frente. Olhei de cima da ponte e não vi as patinha pro alto, nem a barriga inchada. Tinha uma cadera ali perto que também não tava mais. Era tudo água e coisa passando rápido.
Dois dia depois a água já tinha voltado ao normal, mas Princesa tinha ido embora. Cansô de ficá ali bebendo água, de perna pra cima.
Cheguei em casa e Papai tava dormindo. Não tinha ido trabalhá. Acordei ele e pedi pra ele melhorá logo. Agora só tinha a gente e não era hora de ficá doente também.
Ele ficô me olhando e depois me abraçô forte.
No otrô dia ele começô a melhorá.

Guimba e a consciência Social


Por Fabio da Silva Barbosa

Nada surge do nada. As coisas, fatos e fatores possuem toda sua história. O menino rouba, mas ele não nasceu naquele momento, roubando.  Ele trabalhava duro como cobrador da combi que fazia a subida do morro. Chegava na porta de casa exausto e tinha de esperar sua mãe acabar de se “divertir” com algum bêbado que havia arrastado do forró. Sentava e ficava esperando ao lado da porta aquilo que poderia durar a noite toda. Muitas vezes, quando conseguia entrar no barraco de um cômodo, via o pouco dinheiro que tinha conseguido ser tomado por ela. Codinome: Cangaceira. Ambos possuíam muitas cicatrizes pelo corpo e pela alma. O frio batia forte até a porta abrir. Via as pernas bêbadas passarem ao seu lado e entrava de cabeça baixa. A panela vazia. Não existia banheiro ou janela. Se acomodava sobre os trapos em um canto, dividindo o espaço com a cadela que tinha como única amiga. O nome dela era magrela. Nem ele, nem Magrela, gostavam do cheiro de pedra quando a mãe tava fumando. O barraco ficava impregnado. Agora era linchado por uma multidão que o culpava por não ter consciência social. Morreu sem saber o que isso significava 
Nada surge do nada. Tudo tem um início, um meio e um fim.

Na instituição para menores infratores


Por Fabio da Silva Barbosa

Tenho uma hora do lado de fora, as outras vinte e três são trancadas neste quadrado com três caras que nunca vi na vida. E dizem que não existe pena pra menor. Então o que é isso que tô cumprindo? Tá louco!?
A pior hora é quando fecha a porta. Isso é o sinal de que ela só abrirá de novo no outro dia. A não ser que você esteja matriculado no colégio, ajude na limpeza... Faço de tudo. O negócio é não ficar o dia aqui dentro. Até a visita ajudo a organizar. Já que não recebo visita, pelo menos ajudo a organizar a dos outros. No final ainda posso comer a sobra dos lanches que o pessoal leva.
Só não participo do culto. Não gosto da gritaria que o pastor faz. Nessa hora prefiro ficar trancado aqui.
Fico pensando como meu pai tá lá no presídio. Se aqui é ruim assim, imagina lá.
Dia desses fui pro Isola. Lá é pior ainda. Lá nem uma hora a gente tem pra sair do quadrado. E no quadrado só fica nós e nós. Não tem nem mais três junto. Ratiou, vai pro Isola. É a regra.
Já passou um mês e nem a sentença saiu ainda. Quando o juiz decidir o que vai ser de mim, aí deve piorar.
Mas meu caderno tá bonito. A professora disse que sou inteligente, que falo bem. Tô lendo aqui uns livros que ela me passou. Tem um aqui que fala de uns guris vida louca, muito parecidos comigo.    
Justamente quando tava chegando no fim do livro sobre a gurizada louca, um dos meus parceiros de quadrado passou alguma coisa em volta do meu pescoço. Os outros dois fingiam que tavam dormindo pra não se envolverem.  O que era aquilo que ele conseguiu para me enforcar. Nem cadarço de tênis podia entrar. Sei que não tava conseguindo me soltar. Me debati bastante.
Dei trabalho, mas logo a vista começou a apagar.

Pela neblina


Por Fabio da Silva Brbosa

Vagando pelos lugares de sempre
sem se preocupar se está perdendo tempo
ou apenas usando os segundos

Enquanto eles querem prolongar ao máximo a existência
você se joga de cabeça
sem temer a morte

A chuva fria molha a roupa
As meias rasgadas já estão encharcadas
Faz muito tempo que não sente o calor de um lar

Mas as ruas
não lhe parecem tão más
quanto aos demais

Não importa do que é feita a grade
pois uma jaula
é sempre uma prisão

A regra social não lhe apetece
Não quer caber em uma caixa
mesmo se pintada de ilusão

Os governos fazem guerras
mandando jovens pro caixão
enquanto eles riem pra televisão

Mas você não quer saber
apenas corre pela madrugada
sem saber se é noite ou dia

Eles te odeiam por isso
Não podem suportar sua liberdade
Tentam te soterrar com seus olhares de frustração

Só que você é mais forte que imaginam
e seu corpo magro
veste uma armadura de fúria

Não querem te entender
e você não pede
essa tal compreensão

Cards

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

PELAS VOLTAGENS DE JACK & JACK

Por:Edu Planchêz


acendendo um, dois traços,
o filete da lâmpada,
o nosso aparecimento no mundo

nas camadas do chão de cal escuro,
do chão perfeito dos que pendem para a esquerda,
para o centro da molécula do café
haendel de peruca branca, bem sério,
nos observando de uma capa, de uma estampa,
do alto do grão de arroz
e a casa sempre nos espera,
chuvosa de livros,
fogão clamando por panelas ferventes
minha fêmea aprende uma das máximas de lou reed,
a que nos chama para o parque dos selvagens,
da selvageria
os remos aqui estão,
sigamos para o rumo dos albatrozes,
nos encontremos com jack london aqui mesmo,
em luna dourada,
nos arredores da cidade arte,
nas páginas de suas histórias
diego el khouri movido pela máquina vida
nos arrasta pelos pântanos,
pelas voltagens de jack & jack

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

POR: DIEGO EL KHOURI

Dor dilacerante, memórias  pretéritas, noites  insanas, amargas, feridas abertas, abertas. Dor dilacerante, presente, pretérita

terça-feira, 11 de setembro de 2018

O LADRÃO DE LIVROS

Por: Edu Planchêz

há anos minha irmã Ana Lucia Planchêz se propunha a esse papel...
um dia roubara para mim "toda poesia" de Ferreira Gullar
numa livraria de nome Guanabara
numa certa cidade do interior de São Paulo

E assim fomos roubando livros e os livros nos roubando...
Veio "meu pé de laranja lima", "arara vermelha"...
"Planalto em Chamas","Pé na estrada","Pergunte ao Pó"....

Os ladrões de livros, os livros dos ladrões...
meu nome está escrito nele