Por: Alexandre Mendes
- Ô, Francisco! Me serve um chopp, aqui! – Gritou o cliente da mesa dez.
Assinval correu até a serpentina, com a taça na mão. Já conhecia aquele cliente e sabia que o cara era “carne de pescoço”.
- Ô mestre! Tá aqui, bem geladinho! - Disse o pobre garçom, servindo a bebida. O sorriso era forçado.
- Porra, Severino! Já te falei que eu gosto de colarinho! – O pessoal da mesa ao lado, ria da brincadeira.
- Desculpe, patrão! Vou tirar outro chopp pro senhor.
Fazia dez meses, que Assinval havia chegado ao Rio de Janeiro. A lembrança de Mossoró vinha a tona, quando via a foto de Teteca, sua jovem e bela esposa. Ele a deixara a sua espera, com a promessa de voltar um dia, com dinheiro suficiente para montar seu próprio negócio. As cartas de Teteca eram freqüentes para Assinval. Como o rapaz já havia morado em três pensões diferentes, desde que chegara ao Rio, as cartas eram enderaçadas para o restaurante, onde ele trabalhava.
Seu sorriso brilhava, quando o gerente dizia: “Xinval! Carta para você, aqui, rapaz!”
Assinval corria para ler as juras de amor da sua princesa do agreste, no banheiro.
- Ô, Ceariba! Cadê o bife que eu te pedi? – Era o cliente da mesa dez, atormentando a vida de Assinval, novamente.
- Um momento, por favor. Vou lá na cozinha, dá um pito neles! – Disse Assinval, paciente como sempre. O cliente da mesa dez era o centro das atenções, quando começava de chacota com a cara do garçom.
- Poxa, pessoal! Aquele cara; o da mesa dez, não é fácil, não! Cadê o bife dele?
- Desculpe a demora, Assinval. Mas tem cliente na frente.
De repente, entra o gerente na cozinha:
- Xinvaldo! Tô te procurando, um tempão! Carta pra você, meu filho!
Assinval se esqueceu do chato da mesa dez e correu pro banheiro. Mais uma cartinha dela, sua amada, Teteca.
“Assinval, meu esposo amado.
Não sei como te dizer. Tenho muita saudade de você. Dez meses que não te vejo. Pra matar saudade, só em foto. Pois é. Pra dormir, só agarrada a uma foto sua. Acontece que, uma noite dessas, coloquei a sua foto no meio das minhas pernas, desejando você aqui. Não sei explicar. Sonhei com você, aquela noite. No sonho, fazíamos nheco-nheco. Agora, meu amor, acho que você não vai acreditar. Senta, que lá vem a bomba.
Você me engravidou, através do sonho ou da foto no meio das minhas pernas. Sei lá. A única coisa que posso te afirmar é que estou grávida de seis meses. Parabéns, papai.
Te amo muito.
Teteca.”
Assinval ficou atônito com a notícia. “Grávida em sonho? Essa rapariga pensa que sou algum otário?” Começou a socar a parede de raiva. “Vadia! Eu mato ela!” – Sofria sem dar uma palavra.
BATIDAS NA PORTA DO BANHEIRO: - Xivaldo! Abre aí! O bife com fritas da mesa dez!
O rapaz abriu a porta. Prendia o choro e o desânimo de viver. Foi até a cozinha e pegou o bife com fritas, na bandeja. Olhou pela escotilha da porta: o cliente pentelho retrucava com o casal da mesa nove, provavelmente, falava mal do rapaz.
Assinval, discretamente, entrou com a travessa de comida no banheiro dos funcionários e trancou a porta. Descansou a bandeja, em cima do tampo da privada. Sacou o pênis para fora e começou a imaginar Teteca nua, entregue aos seus beijos e carícias, na sua cama de madeira, recém comprada, lá, em Mossoró.
“Toma...ai...ai...Agora faço um filho em você!” Assinval despejara todos os seus herdeiros sobre o bife do bundão da mesa dez. “UUUUUUIIIII!!!!!”
Já, lá fora: - Porra, Genivaldo!!! Caralho!! Que demora!
- Desculpa, chefe! Tá aqui, o bife com fritas do senhor. – Assinval fazia cara de babaca; aquela que já estava acostumado a fazer.
- Ué. Eu não pedi molho branco! Ah! Vou comer assim mesmo!
O cliente degustou o bife, sem respirar: estava morrendo de fome.
Como era de costume, Assinval recebeu, junto a comanda, a gorjetinha simbólica de cinqüenta centavos. – Vai juntando! Um dia paga a passagem de volta, no pau de arara.
Assinval sorriu e pensou: “AAAAAAAAAAA!!!! MUITO OBRIGADO, TETECA!!
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