Por: Alexandre Mendes
Após me desligar da
lanchonete, encontrei-me com a cliente que me propôs o emprego de gerente, na
loja de decoração.
Concordei com o salário
proposto, pois era bem mais do que eu ganhava na chapa. A vontade de executar
outro tipo de tarefa, para obter a minha renda, era muito forte.
Tive que comprar camisas de
botão e calças sociais. O cargo exigia uma boa aparência para atender o
público. A barba deveria estar sempre bem feita.
A infinidade de tecidos e preços
me deixava louco. Tentava decorar aqueles números. Mas a responsabilidade
estava um pouco além, disso...
Fiquei responsável pela intermediação
entre a dona da loja e os funcionários. Não conseguia entender porque, a
princípio, os vendedores não falavam comigo direito. Pareciam estar furiosos
com a dona da loja.
Acabei fazendo amizade com o auxiliar de serviços
gerais. Ele me contou, então, que os funcionários não recebiam seus salários,
já fazia três meses. Confesso que o fato me deixou chocado.
Certa vez, uma das costureiras me pediu um
vale, alegando que precisava comprar fraldas para a sua neta. Fui até o
escritório e passei o pedido da costureira para a dona.
Foi muito difícil para mim, dizer a pobre
costureira que não tinha dinheiro no caixa e que, portanto, só poderia lhe dar
o vale, quando entrasse grana.
Comecei a achar que a dona da loja era uma
vigarista. Enchia a cara, o dia todo, trancada no escritório. Ela havia me dado
uma procuração, para que eu pudesse tomar a frente na negociação das contas
atrasadas da loja.
Aguentei o trampo apenas por um mês e meio. A
essa altura, o meu pagamento já estava atrasado, junto com os salários dos
outros funcionários.
Discuti com a mulher. Acusei-a de ter me
convidado para uma furada e exigi que me pagasse logo.
Uma semana depois, ela depositou o dinheiro na
minha conta.
Pronto. Estava livre e desempregado,
novamente.
O dinheiro que sobrou, após pagar algumas
contas, eu investi em blusas de rock, compradas em Petrópolis.
Voltei, então, para
as ruas.
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