Nessa época,
eu vendia blusas de banda de rock na Praça São João, em frente a Secretaria de
Educação. Tinha que chegar cedo para pegar a sombra do telhado do prédio
público, ao meio dia.
Foi alí que
conheci muitos ambulantes, com mercadorias variadas. Gostava de trocar
idéia com os africanos. Esse grupo tem crescido no mercado informal, cada vez
mais. Normalmente, comercializam cintos e produtos de beleza feminino. São
angolanos, quenianos, argelinos. Eu gostava muito de praticar o meu
inglês com os quenianos.
Conheci um cara recém chegado da Paraíba. Seu nome era Antônio. Seu irmão era
pipoqueiro na região. Antônio estava hospedado na casa dele. Vendia
guaravita, cerveja e refrigerante, em um isopor amarrado em um carrinho de duas
rodas.
Cada rua tem
o seu horário para ser liberada para os camelôs. O rapa para de enfernizar
a vida dos camelôs na Avenida Amaral Peixoto às 19:00 da noite. "Após
esse horário é difícil de haver algum tipo de fiscalização." - Pensava eu.
Chamei Antônio para conhecer o pico mais movimentado, após às 19:00. Ele me
acompanhou. Montamos nossos apetrechos na lateral da Avenida. Por um instante,
dei as costas para minha grade. Antônio tinha ido procurar um banheiro e
eu fiquei vigiando o carrinho dele. Enquanto eu vendia um guaravita, o rapa
veio por trás de mim e tomou a minha grade. Tentei argumentar, mas eles me
cercaram. Jogaram a minha grade dentro da Kombi.
De repente,
Antônio apareceu, mas já era tarde: o rapa já estava tomando a mercadoria dele.
Ele seguiu o
meu conselho e segurou o carrinho. Os discípulos de Satanás levaram somente o
isopor e toda a mercadoria que tinha dentro do carrinho.
Enquanto a
Kombi se distanciava da gente, uma cena inusitada se desenrolava perante
os meus olhos: Antônio, paraibano, recém chegado ao Rio de Janeiro, sentou no
meio fio e chorou.
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