Por: Alexandre Mendes
Era sexta feira, o último dia de trabalho da
semana. Normalmente, as obras davam o fim de semana inteiro de
folga. Trabalhava acelerado, pois queria acabar a tarefa até às quatro da
tarde. Almejava pegar o pagamento da semana e fazer algumas compras, no supermercado.
Após muito suor e correria, consegui concluir
meu trabalho e recebi a merreca da semana. Tomei banho, me arrumei, e peguei o
ônibus para Niterói, na intenção de passar no mercado.
Comprei tudo que estava escrito no bilhete,
feito por minha esposa, antes de eu sair para o trampo. Deu umas quatro sacolas
de compras. O dinheiro que sobrou era pouco, mas poderia ser necessário
gastá-lo, durante o fim de semana.
Caminhei até o Terminal Norte, carregando
minha mochila cheia nas costas (roupa de trabalho, marmita vazia etc), e as
sacolas de compras nas mãos. Me sentia muito cansado. Ainda teria que esperar
na fila do ônibus e viajar por, aproximadamente, uma hora até chegar em casa.
Fiquei de saco cheio de esperar na fila e
peguei o ônibus 538, “Jockey”, que já saia do Terminal lotado. Passei na roleta
e, com dificuldade, me acomodei na parte central do corredor.
Um rapaz, que estava sentado no banco a minha
frente, ofereceu o espaço entre as suas pernas e o banco dianteiro, para que eu
repousasse as minhas sacolas. Consenti. Confiei as minhas compras ao rapaz e me
desliguei da vida. O tempo de viagem era longo e tortuoso, pelas curvas
fechadas da Avenida Amaral Peixoto.
Pensava no almoço de amanhã, quando me liguei
que o ônibus já estava parado, no ponto em que eu tinha que descer. Disparei em
direção a porta de saída e desci do ônibus.
O coletivo saiu do ponto e foi, então, que me
lembrei das compras, deixadas com o rapaz sentado. Saí correndo atrás do
ônibus, na esperança de ver o cara, pelo menos, descendo do ônibus. Corri até o
ponto final e não o achei.
Regressava para a estrada, triste e
cabisbaixo, quando dei conta de que ocorrera algo pior: minha carteira tinha
caído do bolso de trás da bermuda, enquanto eu corria atrás das compras.
Comecei a suar de nervoso. Sem compras. Sem
dinheiro.
- Ô! Você deixou cair a carteira! – Bradava um camarada, do outro lado da pista, em frente ao ponto, no qual eu havia descido do ônibus.
- Ô! Você deixou cair a carteira! – Bradava um camarada, do outro lado da pista, em frente ao ponto, no qual eu havia descido do ônibus.
Atravessei a pista, me sentindo mais
tranquilo. “Pelo menos, tenho o resto do pagamento.” – Pensei. No entanto,
quando abri a carteira, não tinha mais um tostão dentro.
- Ué! Não foi você que achou? – Perguntei ao
camarada, desconfiado.
- Não! Eu peguei depois que um cara já tinha
mexido. – Disse o sujeito.
Fui embora, desesperado. Fui obrigado a pedir
fiado na mercearia da esquina e só paguei as compras na sexta feira, seguinte.
Sem dúvida alguma, esse foi um dos episódios
mais terríveis.
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