Pegou a “lata de sardinha” até o Centro.
As instruções do coletivo:
. Pague a passagem com trocado, pois o cobrador nunca tem troco a essa hora.
. Não fume no interior do coletivo.
. Não coloque o celular aos berros.
. Não roce nas mulheres, pois pode levar uma coça.
. Desça, somente, no ponto.
_Seguiu a risca, as regras do “catacorno”_
Chegou ao trabalho atrasado, por causa do rotineiro engarrafamento.
As instruções do seu patrão:
. Senta aqui e escuta o meu sermão do dia.
. Sorria sempre para as tarefas de adulto que lhe obrigamos a executar.
. Conforme-se com o salário de criança que nós lhe pagamos.
_Seguiu a risca, as instruções do patrão_ (e, também, da patroa e do coletivo, como era de costume.)
Anos de mesmice depois... Bateu aquele tédio proibido em João Ninguém. O sentimento transformou-se em ódio, que descambou para a loucura...
Acordou as três da manhã, com o despertador. Desligou o quadradinho e, só se levantou na hora em que se sentiu bem.
Caminhou até o ponto do ônibus, comendo a marmita gelada. A blusa do uniforme, toda amarrotada e cagada de comida, no corpo.
Entrou no coletivo; deu um arroto e pulou a roleta: Levou um esporro do cobrador. Puxou 50 pratas do bolso e pagou a passagem, dizendo ao funcionário que ficasse com o troco. – Hoje, vamos quebrar a rotina!
Cantarolou até a Central do Brasil, incomodando todos os passageiros. Resolveu acender um cigarro, bem no meio do salão. Foi severamente repreendido: apagaram o tabaco dele, na marra. Enquanto muitos, ainda falavam mal de sua mãe, resolveu roçar sua troçoba, nas nádegas de uma senhora recatada. Desceu fora do ponto, na altura da Praça XV, debaixo de uma saraivada de porradas.
Chegou ao trabalho, com o uniforme amarrotado; ensangüentado e manchado de feijão. Estava, três horas, atrasado. Olhou para a cara feia do chefe e, antes que ele dissesse algo, pronunciou as palavras mágicas para a sua liberdade:
- Vai tomar no núcleo do centro do olho do orifício do teu cú!!!
Juntou seus trapos e foi embora mais cedo, para sempre.
Caminhou de costas, até sua casa, cantando “Sociedade Alternativa”, de Raul Seixas, durante quatro horas.
Passou na barraca e pediu ração, biscoito, leite e, ao invés de pagar, saiu correndo. Despejou os três alimentos na entrada do seu quintal. Misturou-os, com o pé descalço; agachou-se e, como um animal selvagem, alimentou-se.
CONCLUSÃO:
“O Ministério do Trabalho adverte: Nossas leis contêm substâncias tóxicas que podem levar ao adoecimento e a morte.
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