O COLETIVO ZINE É UMA AÇÃO CONJUNTA. A PROPOSTA É REUNIR DIVERSOS FANZINEIROS OU CRIADORES INDEPENDENTES E PRODUZIR UM TRABALHO COLETIVO. CADA PARTICIPANTE CONTRIBUI DA FORMA COMO PUDER, SEJA NA CRIAÇÃO, MONTAGEM, EDIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, DIVULGAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO. O IMPORTANTE É SOMAR ESFORÇOS. E ASSIM MULTIPLICAR A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CADA AUTOR E DIVIDIR O TRABALHO. SE DER CERTO,CONSEGUIREMOS CHEGAR A NOVOS LEITORES QUE JAMAIS CONHECERIAM NOSSO MATERIAL SE O PROMOVÊSSEMOS ISOLADAMENTE. E NA PIOR DAS HIPÓTESES, AO MENOS TEREMOS UMA DESCULPA PARA INSANAS FESTAS DE CONFRATERNIZAÇÃO E LANÇAMENTO DE ZINES. ENTÃO, MÃOS À OBRA. MISTURE-SE.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O Jornalista

Por Fabio da Silva Barbosa

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Todo dia era a mesma coisa. A reunião de pauta decidia sobre o que ia escrever e a linha editorial determinava como ia escrever. O mundo desabando e mandaram cobrir aquele lançamento de cosméticos. Como se sentia idiota. Mas os parentes gostavam. Comparavam o jornal só para mostrar a assinatura dele na matéria da capa. Acreditavam mesmo que ele escrevia. Escrevia, mas escrevia o que os outros queriam. Pior que o lançamento de cosméticos foi a entrevista com o novo Secretário de Direitos Humanos da cidade. Um policial corrupto e assassino que se juntou com fanáticos religiosos e setores da extrema direita para conseguir o cargo.
- Eu sempre quis fazer uma campanha do agasalho em grande escala – Dizia ele. –Queria ver toda essa gente, tão sofrida que vive nas ruas, sem sentir frio.
O que reservariam hoje para o seu dia. Cobertura sobre a venda de ovo de chocolate na Páscoa,entrevista com o Secretário de Educação (dono de uma rede de escolas privadas)… Chegou à redação e logo descobriu a pauta a ser coberta.
- É uma rua na Região Oceânica. Tem um amigo que mora lá e disse que uma pedra maldita atrapalha todo o fluxo de carros. Ele já pediu para tirarem aquilo de lá, mas ninguém toma providência.
Pegou os dados impressos no papel que lhe era mostrado, entrou no carro da redação e foi para o local indicado. O fotógrafo e o motorista conversavam animados. O calor era infernal. Chegando a tal rua, viu logo a enorme pedra natural do lugar. A rua foi aberta e casas bonitas (de quem tem dinheiro) foram construídas por ali. No ponto onde estava a grande pedra, a rua ficava um pouco mais estreita. Desceram todos do carro. Ao caminhar mais para o final da rua, viu que as casas iam ficando mais humildes. Devia ser a população nativa, que começou a povoar o local antes mesmo de ter rua.
Viu uma senhora se aproximar caminhando. Perguntou sobre a pedra. A senhora disse que ela sempre esteve ali e até deu o nome da rua (Rua da Pedra). Conforme conversava com os passantes, ia anotando no bloquinho.
- Acho até bom essa pedra. Depois que esse pessoal que tem carro veio para cá, as crianças nem podem mais brincar na rua. Assim eles diminuem a velocidade.
- Essa pedra é muito bonita. É uma beleza natural que deve ser preservada.
- Ela é tradicional do lugar.
- Para mim não incomoda em nada.
- Essa pedra tem história. Quem mora aqui mais tempo sabe.
Chegou à redação e fez a matéria. “Pedra é patrimônio de rua na Região Oceânica”. Foi satisfeito para casa. Dessa vez tinha valido a pena. O telefone tocou.
- Que merda de matéria é essa que você fez? Nunca mais entregue algo e vá embora antes de revisarmos. Tivemos de reescrever tudo em cima da hora.
No dia seguinte foi até a banca e leu na capa: “Pedra causa transtorno em rua da Região Oceânica”. Voltou para casa. Algumas horas depois ligaram da redação querendo saber se não iria trabalhar.
- Procurem outro. Nunca mais piso nesse lugar. Deve ter uma fila de gente querendo ver o nome assinando as matérias desse grande jornal. Tô fora.   

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