Por Fabio da Silva Barbosa
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E as pessoas corriam gritando.
- Pega! Bate! Mata! Ladra! Vagabunda!
E ela corria como nunca. Mas eram muitas pernas a lhe perseguir. Muitas vozes. Cada vez se multiplicavam mais. Seus pés falharam no momento em que a pedra atingiu sua cabeça. O chão se fez próximo. Os perseguidores a cercaram. As vozes aumentaram.
- Segura! Bate! Agora vai ver! Mata! Agora vai aprender! Vagabunda!
Os golpes vinham de toda parte. Tentou lembrar-se da mãe que morrera na prisão, do pai que nunca conhecera. Eram lembranças que nunca existiram. Não tinha de onde tirar. Tentou se levantar, se arrastar. Tentou pensar em um lugar onde já se sentira segura. O cérebro falhava. Todo esforço era inútil. Lembrou os tempos de rua, das meninas da gangue. Lembrou os tempos de abrigada, dos monitores e educadores carrancudos. Lembrou dos poucos que tentaram entender e ela mandou tomar no cu. Era impossível aceitar que quisessem oferecer ajuda. Isso beirava o inacreditável naqueles tempos sombrios. Tempos que sempre foram assim e são até o momento.
- Não deixa fugir! Bate! Segura! Vai aprender! Vai ver!
O cérebro falhando cada vez mais. A vista escurecendo. O sangue cobrindo o corpo. O sangue cobrindo a terra. A fúria descendo sobre o cadáver que já não respondia aos golpes. O cadáver que já nascera morto. A morta que já nascera morta.
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