O COLETIVO ZINE É UMA AÇÃO CONJUNTA. A PROPOSTA É REUNIR DIVERSOS FANZINEIROS OU CRIADORES INDEPENDENTES E PRODUZIR UM TRABALHO COLETIVO. CADA PARTICIPANTE CONTRIBUI DA FORMA COMO PUDER, SEJA NA CRIAÇÃO, MONTAGEM, EDIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, DIVULGAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO. O IMPORTANTE É SOMAR ESFORÇOS. E ASSIM MULTIPLICAR A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CADA AUTOR E DIVIDIR O TRABALHO. SE DER CERTO,CONSEGUIREMOS CHEGAR A NOVOS LEITORES QUE JAMAIS CONHECERIAM NOSSO MATERIAL SE O PROMOVÊSSEMOS ISOLADAMENTE. E NA PIOR DAS HIPÓTESES, AO MENOS TEREMOS UMA DESCULPA PARA INSANAS FESTAS DE CONFRATERNIZAÇÃO E LANÇAMENTO DE ZINES. ENTÃO, MÃOS À OBRA. MISTURE-SE.

sábado, 11 de abril de 2015

Feito para não funcionar

Por Fabio da Silva Barbosa

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Um erro muito comum das pessoas é ver o resultado como se fosse a causa e com isso focar esforços em sanar unicamente o resultado enquanto a fonte continua jorrando os mesmos resultados. E isso pode ser visto nos mais diversos campos. Parece que ao vermos um menino portando uma arma, assaltando… a solução é prender, ou quem sabe até matar, esse menino. Só que a fonte continua jorrando vários outros para ocupar o lugar daquele. Mas essa falha de ótica não é casual. Ela é cuidadosamente plantada pela mídia e demais ferramentas desse sistema manipulador que nos cerca.
Nesse texto gostaria de discorrer como isso acontece na educação, ou no que chamamos de educação. Uma coisa que sempre me incomodou foi o discurso que prega a falta de interesse dos alunos pela sala de aula sem questionar o porquê desses alunos estarem desinteressados. Obviamente sem saber o porque, não chegaremos a fonte e ficaremos presos na superfície sem conseguir uma visão adequada para se chegar a diferentes resultados.
Minha leitura sobre o assunto é que a sala de aula se tornou algo altamente desinteressante, monótono e autoritário. Um ambiente que não estimula a autonomia, a criatividade e que não está aberto ao novo. E isso pode ser observado do ensino fundamental até o nível superior, onde encontramos professores que se julgam praticamente semideuses (alguns se acham o próprio deus). E isso se estende a educação familiar. As instituições que deveriam prezar (pelo menos teoricamente) pelo desenvolvimento do indivíduo, acabam se transformando em organismos limitadores pela incapacidade de se renovar, de reconhecer que a teoria está sempre mais atrasada que a prática. Isso se dá porque a prática está em constante movimento, se modificando a cada minuto, enquanto a teoria tem de passar por todo um canal burocrático de aceitação que acaba por criar um universo paralelo constantemente atropelado pela ordem natural da criação e da diversidade humana.
Certa vez estava em uma festinha na casa de um amigo e lá estavam alguns acadêmicos, muito orgulhosos de seus títulos e como sempre fechados em suas pequenas rodas, falando para eles mesmos. Daí tive a infelicidade de me convidarem para o assunto. Sei que em certo momento expus meu ponto de vista sobre a apropriação que a academia faz de criações populares e depois fica julgando se os criadores estão certos ou errados, como se tivessem de pedir a benção da academia para fazer o que sempre fizeram com naturalidade, espontaneidade. 
- Mas então você está dizendo que um acadêmico não pode fazer um trabalho sobre Rap, por exemplo?
- Ele pode fazer um trabalho sobre Rap, mas não pode achar que aquele trabalho é a verdade, que todo mundo que for fazer RAP tem de fazer daquele jeito. Afinal, ele retratou o RAP naquele momento, mas, como tudo na vida, o RAP está em movimento e semana que vem, ou amanhã, ele já pode ser diferente. Um cara pode chegar a qualquer momento e mudar todo o conceito da coisa, agregar novas informações, evoluir o estilo… E daqui que se faça uma nova pesquisa a respeito, que essa pesquisa seja enquadrada nos moldes impostos pela academia, que seja aceita… A coisa já continuou caminhando e mudou de novo, de novo e de novo… O caminhar das coisas no mundo real não está submisso a academia.
Nem preciso dizer que me acharam um ignorante falando baboseiras e voltaram a conversar entre eles, fechados em seu mundinho.
Lembro também da faculdade de jornalismo, quando alguns professores distribuíam cópias de textos e ficavam lendo enquanto acompanhávamos com os olhos entediados. E eram textos longos, cheios daquela linguagem pedante e pomposa, sobre a Escola Europeia e Norte-americana de Jornalismo. Uns textos cheios de conceitos ultrapassados, que nem nos EUA ou na Europa são utilizados hoje. Imagina se usei uma linha se quer quando comecei a desenvolver meu trabalho jornalístico dentro das favelas de Niterói, São Gonçalo, Rio de Janeiro e adjacências? Isso nem cabia na minha realidade enquanto jornalista independente querendo mergulhar de cabeça na realidade que sempre me cercou. Terminada a graduação, pensei em seguir numa pós. Pesquisei sobre alguns trabalhos e orientadores da área e adivinha. Não me senti motivado. Não iria me submeter a uma retórica que rima com perda de tempo, desperdício de vida. Não preciso de um papel dizendo que sou isso ou aquilo. Não tenho esse tipo de fragilidade. Tenho meus próprios meios de comunicação, onde nem ao menos me prendo a regras gramaticais ou a qualquer outro tipo de engorduramento imposto. Tenho meus leitores e mesmo quando não tinha escrevia para mim mesmo. Não quero fazer parte do que me parece extremamente desinteressante e desnecessário, do que me parece incorreto e desperdício de vida. Nunca fui um bom aluno. A escola sempre foi um ambiente no qual me sentia pouco a vontade, uma verdadeira tortura. Ao invés de libertação, aquilo tava muito mais para prisão. Dizem que rimar quando estamos escrevendo em prosa não cai bem e cabei de fazer isso. E daí? Foda-se. É disso que estou falando. E usei tava também ao invés de estava. E daí? Em que isso atrapalhou a comunicação? Aí eles vem me falar de empobrecimento da língua enquanto isso é exatamente ao contrário. Língua pobre é língua parada, estagnada. Língua rica é a que está em movimento, em mutação, crescendo com o movimento da vida.
Agora imagina um garoto de favela chegando na escola, com seu próprio modo de falar e de ver o mundo. Aí chega o professor com um discurso pronto, completamente ajustado aos valores burgueses, violentando tudo que ele tem como sagrado com suas certezas. Não há troca de informação ou estrutura horizontal, mas uma ideologia completamente verticalizada, onde um sabe e o outro é o ignorante que tem de se calar e apenas ouvir, aceitar. A troca de saberes dá lugar a um saber único e indiscutível. Só se aceitam discussões que falem a mesma língua, que compactuem com as mesmas “verdades”. Por isso, qualquer um que tem um mínimo de personalidade dá uma boa olhada para esse banquete de nada que lhe é oferecido e diz: Tô fora.  

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