Por Fabio da Silva Barbosa
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Mais um dia de visita na clínica. Me arrumo toda e fico esperando. Já faz tempo que ela não vem. Ao invés de dia de visita, tinha de se chamar dia de espera. Começa a chegar gente para ver Fulana e Beltrana, mas a minha não chega. Será que vai vir dessa vez? Fico esperando. O negócio é esperar. Pior que aqui não dá nem para fumar cigarro. Se ainda pudesse matar o tempo enquanto me mato… Tique-taque, os ponteiros vão passando. Levanto e olho para a porta. Ninguém. O negócio é continuar esperando. Agora vem alguém. É visita atrasada, mas não é para mim. Puta merda. E nem um cigarrinho. Percebo que começo a andar de um lado para outro. O enfermeiro olha. Já percebeu minha agitação. Melhor sentar. Tique-taque. Nada de chegar. Tique-taque. Puta que o pariu. Já passou mais da metade do tempo de visita e até agora nada. Os ponteiros demoram a andar e ao mesmo tempo não param de correr. Vai entender. Disseram que iam me tratar, mas a única coisa que fazem é administrar o maior número de remédios que podem sem correr o risco de me matar. É a prisão química, o paraíso da indústria farmacêutica. Não é a primeira vez que paro nesse buraco e quando sair estarei do mesmo jeito, só que impregnada de remédios, mais drogada do que nunca. Tique-taque e não chega ninguém. Devem estar muito ocupados trabalhando, fazendo compras ou sabe lá mais… Passou um mosquito voando. Pelo menos acho que era um mosquito. Pode ser mais uma daquelas bolinhas luminosas que aparecem na frente da vista. Não! Era um mosquito! O tique-taque não para de tiquetaquear. Parede branca, parede branca, porta, parede branca, grade, chão, teto, mesa, balcão, chão, teto. Sujeirinha esquecida no canto. Chão, teto, parede, porta, grade, porta, grade. Ó o enfermeiro passando. Até que não é dos piores, mas o trabalho dele que é o problema. Tique-taque. Olho de um lado para outro. Sacudo a perna cada vez mais forte. Nem percebi que estava sacudindo a perna até então. Tique-taque! Pronto, deu a hora. Tenho de me recolher e esperar até o próximo dia de vista quando novamente não virão.
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