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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Sangue e areia

Sangue e areia

Por Fabio da Silva Barbosa

O planeta estava em desequilíbrio. Entre as muitas espécies que povoavam o lugar, uma começou a se proliferar de forma descontrolada e impôs um ritmo de vida completamente diferente da natureza que a cercava. O ritmo de vida logo virou ritmo de morte. Os danos estavam crescendo de forma irreparável. Efeitos colaterais surgiam em toda parte. Primeiro vieram as grandes enchentes e logo depois os mares começaram a secar, dando lugar a imensos desertos. Não haviam mais oceanos, rios, praias... e toda forma de vida começou a desaparecer. A humanidade, responsável por tal colapso, se resumiu a um número mínimo antes de desaparecer por completo. 
Um ambiente hostil se formou. As cidades, sem água ou luz, iam aos poucos sendo soterradas pela areia. Alguns grupos resistiram estruturando pequenas comunidades. Estas eram constantemente atacadas por saqueadores que perambulavam pelo deserto em busca de presas fáceis. Alguns homens e mulheres vagavam sozinhos por este cenário apocalíptico. Entre esses estava Rinira.
Ainda pequena, fazia parte de uma comunidade que estava conseguindo se fortalecer, apesar de todas as dificuldades. Após um grande ataque de saqueadores, viu seu povo ser massacrado. Rinira foi vendida como escrava junto a outros sobreviventes. Ainda adolescente, depois de ser violentada de todas as formas possíveis, matou seu senhor e conseguiu fugir. 
Encontrou um grupo de mulheres guerreiras. Foi adotada por elas e sentiu ter novamente uma família. Aprimorou-se na arte da guerra e fez parte do grupo em diversas batalhas, até que foram diminuindo numericamente e se espalhando pelo planeta desolado. 
Encontramos Rinira chegando a uma pequena aldeia durante a madrugada. Deixou o cavalo um pouco antes para entrar sem ser vista. Esgueirando seu corpo magro e coberto por cicatrizes, avançava nas ruas estreitas formadas pelos barracos e cabanas. 
Ouviu vozes cortando a noite. Era um pequeno bar. Contou as poucas pedras que tinha. Escolheu a de menor valor. Aquele lugar miserável não era capaz de oferecer nada que preste para roubar. Pelo menos mataria a sede e a fome. 
Entrou estudando cada canto do estabelecimento. Seis homens. Dois jogavam cartas em uma das duas mesas. A outra estava ocupada por um que dormia pesadamente entre roncos que pareciam rosnados de uma criatura bestial. Dois estavam no balcão e pararam de falar quando ela entrou. O sexto era o dono do lugar e estava atrás do balcão. Todos fixaram seus olhos nela, acompanhando seus passos até o balcão. 
- Tenho fome e sede.
O dono a mediu de cima a baixo ao escutar suas palavras e devolveu com uma pergunta.
- E como pretende pagar? 
Rinira abriu a mão apresentando a pequena pedra. O homem pegou a pedra e olhou em direção da luz que emanava do pavio que estava ilhado no meio do monte de cera.
-É autêntica.
- E como vou saber?
- Você é comerciante. Devia conhecer. – Olhou em volta e pegou a pedra de volta com um rápido movimento. O braço parecia uma cobra dando um bote. – Se não quer, irei procurar outro lugar...
- Mas olha como ela é braba. – Disse um dos dois homens que bebiam encostados no balcão se ponto de frente para ela. – Não irá encontrar outro lugar pelo menos por alguns dias marchando debaixo de sol forte. – Olhou bem para os olhos da guerreira e sorriu, deixando a mostra a gengiva de onde pendiam os últimos dentes podres. -  Existem outras formas de pagar, não é mesmo, Urro. – Falou virando para o homem de trás do balcão.
- Se eu fosse você me deixaria ir.  
- Quem sabe depois de... 
Quando tentou passar a mão por trás do quadril de Rinira para segurar a bunda da guerreira, esta sacou a espada e no mesmo movimento arrancou a mão do homem. O outro que estava bebendo no balcão tentou se mover, mas foi logo golpeado e perdeu a orelha. 
Rinira rodou lentamente olhando para todos. Mandou que se agrupassem em um canto e pegou uma garrafa. Deu um gole. Aprovou o gosto amargo da bebida. 
- E agora, o que faço com vocês?
Urro mostrou as mãos e deu um passo na direção da mulher. 
- Tenha calma. Pode pegar o que quiser. Não iremos fazer nada. Pode nos deixar em paz.
Rinira se aproximou deles. 
- Poderia fazer isso, mas agora é tarde demais. Sair daqui e deixar vocês vivos é logo estarem atrás de mim. Não conseguirei passar de algumas casas. Acho melhor acabar com isso agora.
A espada cortava o ar enquanto as cabeças rolavam pelo chão. 
Sem muita demora, saiu olhando as ruas que continuavam tão vazias e silenciosas como quando chegou. Foi carregando o que conseguia levar. Encontrou seu cavalo onde tinha deixado, montou e continuou a cavalgada pelo deserto. 
Alguns dias depois o animal morrera de sede e cansaço. Acampou e aproveitou o máximo da carne antes de continuar a pé até roubar outra montaria. 

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