Por Fabio da Silva Barbosa
Nasci naquele morro
Onde os barulhos de tiros são canções de ninar
O terror algo corriqueiro
Estamos entre os de lá e os de cá
Não tínhamos água ou luz
O esgoto corria solto
Insetos e ratos já não assustavam
Nossas pernas feridas corriam pelo campinho
Fomos crescendo e dando um jeito
Puxamos fios e canos
Já não precisávamos dos galões ou temíamos a noite
Os barracos cresciam ao redor
Nascemos na contravenção
Da informalidade veio nosso pão
Mas os de lá não podiam permitir nossa sobrevivência
Tinham uniformes para nos matar
Já era um homem muito velho
Que aprendeu a resistir naquele lugar
Quando vieram as máquinas oficiais
Dizendo que nossos barracos iam derrubar
Olhei pros meus filhos revoltados
Meus netos muito assustados
Os olhos enchendo d’água
Estava apanhando de um soldado
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