Por
Fabio da Silva Barbosa
Tenho
uma hora do lado de fora, as outras vinte e três são trancadas neste quadrado
com três caras que nunca vi na vida. E dizem que não existe pena pra menor.
Então o que é isso que tô cumprindo? Tá louco!?
A
pior hora é quando fecha a porta. Isso é o sinal de que ela só abrirá de novo
no outro dia. A não ser que você esteja matriculado no colégio, ajude na
limpeza... Faço de tudo. O negócio é não ficar o dia aqui dentro. Até a visita
ajudo a organizar. Já que não recebo visita, pelo menos ajudo a organizar a dos
outros. No final ainda posso comer a sobra dos lanches que o pessoal leva.
Só
não participo do culto. Não gosto da gritaria que o pastor faz. Nessa hora
prefiro ficar trancado aqui.
Fico
pensando como meu pai tá lá no presídio. Se aqui é ruim assim, imagina lá.
Dia
desses fui pro Isola. Lá é pior ainda. Lá nem uma hora a gente tem pra sair do
quadrado. E no quadrado só fica nós e nós. Não tem nem mais três junto. Ratiou,
vai pro Isola. É a regra.
Já
passou um mês e nem a sentença saiu ainda. Quando o juiz decidir o que vai ser
de mim, aí deve piorar.
Mas
meu caderno tá bonito. A professora disse que sou inteligente, que falo bem. Tô
lendo aqui uns livros que ela me passou. Tem um aqui que fala de uns guris vida
louca, muito parecidos comigo.
Justamente
quando tava chegando no fim do livro sobre a gurizada louca, um dos meus
parceiros de quadrado passou alguma coisa em volta do meu pescoço. Os outros
dois fingiam que tavam dormindo pra não se envolverem. O que era aquilo que ele conseguiu para me
enforcar. Nem cadarço de tênis podia entrar. Sei que não tava conseguindo me
soltar. Me debati bastante.
Dei
trabalho, mas logo a vista começou a apagar.
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