Lurdes estava bastante aflita com a confusão anterior entre seu filho e seu marido. As coisas não andavam agradáveis para ninguém naquele lar e o furto de uma quantia em dinheiro afetaria (ou não) as coisas.
-Gabryel, eu estou pagando um absurdo nesse curso de inglês, e você não me dá retorno! Todo dia eu tenho que ficar no seu pé para não fazer besteira, você roubou cinquenta reais da carteira do seu pai!
- Foi a empregada, não fui eu... Para de gritar comigo, eu juro...
- Cala a boca guri! Não fale isso, a Maristelva é uma mulher trabalhadora. Vá já para o seu quarto, ou eu quebro seus dentes!
- Mãe, é sério... Nãã-não conte para o papai, eu quero ir naquele show. Eu já comprei o abadá da vila sertaneja.
- Você tá precisando é de uma surra, vá para seu quarto agora e nada de computador!
Lurdes lembra muito bem da última briga que ocorreu em sua casa entre seu marido e seu filho, temendo que algo pior acontecesse, age por puro impulso.
-Luiz, temos que conversar seriamente sobre os cinquenta reais que você disse que sumiu de sua carteira. Eu tô desconfiada de que foi a Maristelva, não tô delirando não! Eu tô sentindo falta até de algumas panelas e de ...
-Pera ai mulê, que absurdo...Duvido que a Maristelva faria isso! Foi esse idiota do nosso filho, tenho certeza!
- Não acredito que você tá pensando isso ele é nosso sangue e nossa criação. Pra que ele iria roubar as panelas? Acorda!
Enquanto seus patrões discutiam sobre sua índole e sobre seu emprego, Maristelva lavava as louças do almoço ao som da sua rádio favorita, era um programa sobre fofocas de celebridades e resumo de novelas. Pobre, tola, e infantil, nem imagina o que a espera.
- ♫...ai ai seu te pego, ai ai se eu te pegoooo...♫
Maristelva cantava feliz enquanto retirava as espumas do último prato da pia.
- Maristelva, eu e a Lurdes precisamos falar com você! Quando tiver indo embora venha até aqui na sala.
- Tá bom Seu Luiz.
Sem imaginar, Maristelva senta no sofá da sala e espera por seus patrões. Talvez ela imaginava que seria uma conversa sobre não ir trabalhar na semana que vem, já que a família iria fazer uma viagem ao litoral.
- Oi Maristelva, o que temos para conversar pode ser meio desagradável, e por favor, não nos interprete de uma maneira negativa, mas a Lurdes tem sentido a falta de alguns utensílios da cozinha.
- É Maristelva, sabe aquela panela de pressão que eu ganhei do meu irmão? Sumiu. Aquela tampa de microondas que eu comprei da revista também, sabe nos explicar?
- Nossa Seu Luiz e Dona Lurdes, assim vocês me deixam constra... contrang... me deixam péssima! Eu nunca peguei uma balinha que não fosse minha, eu não sei de panela nenhuma! Vou procurar, talvez esteja nessa bagunça da despensa.
- Acho que não, já olhamos. E tem outra coisa, sumiu dinheiro da minha carteira...
Com o choro querendo sair, a pobre Maristelva acha forças dentro de sí, e pede demissão.
O caminho de volta para casa foi uma lamentação que só, por dentro da cabeça dessa mulher passavam mil coisas ao mesmo tempo. Ela se lembrava dos conselhos que ganhava de sua mãe, que roubar era feio, lembrava dos conselhos de seu pastor e da Bíblia que dizia nos mandamentos ''Não roubarás''. Maristelva, se lembrava até dos políticos de Brasilia com os escândalos nas cuecas.
'' Meu Deus, e meus filhos? O que vou dizer a eles?'' Pensou alto. Ainda pensando o que diria para seus meninos, desce no terminal, e sem olhar para atravessar, é atropelada por outro ônibus.
Lurdes pela manhã lê seu jornal '' Noticias da Manhã '' e olha uma reportagem nem tão diferente nas páginas de tragédias, '' DOMÉSTICA É ATROPELADA POR ÔNIBUS.'' vê o nome de Maristelva, não consegue comer, mas já vai contratar outra menina para lavar sua linda casa, só que dessa vez uma mais jovem para limpar direito.
( Anna Alchuffi)
O COLETIVO ZINE É UMA AÇÃO CONJUNTA. A PROPOSTA É REUNIR DIVERSOS FANZINEIROS OU CRIADORES INDEPENDENTES E PRODUZIR UM TRABALHO COLETIVO. CADA PARTICIPANTE CONTRIBUI DA FORMA COMO PUDER, SEJA NA CRIAÇÃO, MONTAGEM, EDIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, DIVULGAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO. O IMPORTANTE É SOMAR ESFORÇOS. E ASSIM MULTIPLICAR A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CADA AUTOR E DIVIDIR O TRABALHO. SE DER CERTO,CONSEGUIREMOS CHEGAR A NOVOS LEITORES QUE JAMAIS CONHECERIAM NOSSO MATERIAL SE O PROMOVÊSSEMOS ISOLADAMENTE. E NA PIOR DAS HIPÓTESES, AO MENOS TEREMOS UMA DESCULPA PARA INSANAS FESTAS DE CONFRATERNIZAÇÃO E LANÇAMENTO DE ZINES. ENTÃO, MÃOS À OBRA. MISTURE-SE.
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