Por:
Fabio da Silva Barbosa
As ruas
começavam a ganhar movimento. Entre uma brincadeira e outra, os camelôs
arrumavam suas mercadorias. Logo as vans começaram a chegar e a despejar
passageiros por toda a parte. Os primeiros pedestres já se esbarravam pelas
esquinas.
- Olha o
suco de laranja.
- Vai um
biscoito aí, madame?
- Ó o
cordão. É prata pura.
A manhã
foi correndo tranquila no que já havia se transformado em um formigueiro
humano.
- Olha o
rapa.
Pronto.
Essa frase acabou com toda a tranquilidade dos que tentavam ganhar uns trocados
para viver e dos que compravam suas mercadorias. Quem podia meter o tabuleiro
na cabeça, saiu correndo. Dona Marrequita se debruçou, desesperada, sobre suas
frutas.
- Por
favor... Não levem minhas mercadorias. É tudo que eu tenho para sustentar meus
filhos.
Levaram-na
por desacato a autoridade.
- Pera
aí, porra. - Gritava o garoto dos relógios vendo sua mercadoria ser jogada na
carroceria de um carro da Prefeitura.
Logo a
confusão estava generalizada. Alguém não suportou ver seu ganha pão ser tomado
e resolveu argumentar. Mas quem é pago para manter a ordem, nem sempre está
aberto a diálogo e a discussão virou briga. Cassetetes, pedras... Violência
para todo o lado. Era a ordem pública e o bem estar geral sendo empurrado goela
abaixo de quem não tem grana.
Belmiro
chegou em casa machucado e sem o dinheiro para comprar o macarrão do jantar.
Falou com a mulher que teria de conseguir o capital emprestado para comprar
mais mercadorias.
- Calma,
meu bem. Hoje a noite tem festa na quadra. Vai lá e esfria a cabeça. Se distrai
um pouco.
Pois foi
o que Belmiro fez. O pagode estava animado e um amigo o convidou para a
cerveja. Lá pelas dez, o policiamento comunitário chegou. Os policiais desceram
da viatura e foram logo anunciando que estava na hora de terminar a
confraternização.
- Como
assim terminar? – Interveio o cara da barraquinha de cachorro quente.
- É isso
aí. Vocês não pediram permissão para fazer esse evento. – Disse um de bigode,
tomando a frente da conversa.
- Pedir
permissão para quem? Nós sempre fizemos esse encontro para o pessoal da
comunidade ter uma distração e vocês que chegaram aqui ontem me aparecem com
essa marra.
- É isso
aí! Marra dentro da nossa comunidade não! – Concordaram todos.
- Calma,
gente. O que tá havendo aqui? – O Presidente da Associação chegou tentando
acalmar os ânimos.
- Tá
havendo que a gente tá pedindo na educação para acabar a festa e esse pessoal
tá querendo arrumar barulho. Ao invés de agradecer que deixamos rolar até essa
hora, ainda tão reclamando. Agora acabou a bagunça. Temos que organizar a
situação. Para fazer evento tem de pedir permissão e esperar para ver se vai
ser aprovado.
Um
falatório tomou conta da quadra. O Presidente pediu calma e sugeriu:
- A gente
se compromete a pedir a tal da autorização da próxima vez. Dessa vez a festinha
já tá rolando. A gente abaixa o som. Pode ser?
-
Infelizmente, não. Temos de encerrar. – Replicou o de bigode.
- Mas...
Antes do
Presidente argumentar, um sinal, invisível para os moradores, foi dado e os
policiais foram em direção a caixa de som para desligar e mandar os pagodeiros
descerem do palco improvisado. Foi o que faltava para o tumulto começar.
Belmiro passou a mão na cabeça. Já tinha visto esse filme hoje.
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