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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

POEMA LIMPÍSSIMO

Por:  Edu Planchêz


Beijos nos lábios de tintas da pintora
A vagina é uma borboleta,
os lábios são as asas,
o grelo, seus olhos
O gás de pimenta me fodendo o nariz e a garganta,
a merda do que é velho tentando se levantar
para matar tudo que é rubro,
tudo que é e não é espelho,
tudo que não é roubo,
tudo que não é mentira
No ninho das medusas vive uma espécie de ser acéfalo
que costuma sair pelas ruas de São Paulo
em busca de plateia e comida,
ele desconhece que um dia Anita Mafaltti...
e Oswald de Andrade plantavam
nos cantos das encruzilhadas
dessa megalópole,
a semente de uma planta
que cresceu, e hoje devora os sem história
pelos pés ( há de se temer )
Jiló com manga,
porra com chocolate,
bucetinha serena,
bucetinha tempestuosa
O poema é sempre o poema,
o homem é sempre o cavalo que o recebe,
óbvio que também o filtro
Sophia de Mello Breyner Andresen
nas janela que abro..
Rendo-me ao mar e ao remo,
ao faiscar de faróis e ilhas,
a visão que colho com o cone
formado por meus pés
e os pés das areias
O céu é cor de laranja,
os lares são cor de laranja, da cor do mijo,
as pessoas, são de qualquer cor,
nesse pós meio-dia,
nessa data que já esteve um dia distante
Cheguei em casa pela manhã,
a madrugada viu os seios da madrugada,
a bunda da minha mãe rua
e a bunda que tenho
Não fiz pactos com o demônio,
nem idolatro a idolatria,
mas posso estar mentindo,
é um direito meu
Nesse pedaço de lata,
nesse país que tenta se olhar olho no olho,
ando pelos tubos dos que escrevem
como forma de se manter vivo,
como meio de encontrar ( ou atrair) amor,
o sexo vital do dia a dia
Lembro que a primeira regra ( li num livro)
de se conquistar uma mulher bonita,
é não dizendo que ela é bonita
( para escapar do lugar comum )
Não cumpro todas as regras ( regras ?)
Meus tesouros,
descansam na paz das folhas,
no espinho da flor que cresce
nas dobras do blusão,
no cume do Monte Evereste,
nas temperaturas do que vou pensando
enquanto você almoça
Meu pau, meu caralho que não visita
nenhuma buceta há meses ( porque não sei),
é uma varinha de condão,
a bússola que tenho nas mãos
para encontrar o norte,
a ponte e a água
Minha avó Eugênia Planchêz, dizia,
que quando morava em Maceió
com meu pai ainda menino,
na falta do dinheiro e do quiabo,
ela pegava o broto do quiabeiro
e o cozinhava para o almoço;
também aprendi com ela,
que com um dente de alho,
um pouco de pimenta do reino,
água, farinha e sal, podíamos preparar um grude
que ela chamava de "rabo de galo"
para enganar o estômago
E foi enganando o estômago...
que cheguei até aqui,
até os dias de agora,
até a essa idade
Voltando aos azuis de Ferreira Gullar,
ao Parque de Diversões da Cabeça
de Lawrence Ferlinghetti,
que pelo que sei ainda está bem vivo
movimentando sua literatura
e sua editora City Lights Books
Escrevo e canto em português,
que é uma possível barreira para o que gesto
rasgar o mundo,
mas lembro que,
Vladimir Maiakovski escrevera em russo
e posteriormente,
fora traduzido em todos os idiomas,
em outras palavras, essa barreira não existe
Borboleta Cleopata,
a coerência na descoerência,
a rainha que desejo na epiderme agora,
com todas as marés do Nilo,
com todas as nadjas de veneno,
com sua buceta imperial cravejada de chupões,
ora, os meus!
E as tardes do Rio de Janeiro transcendem
as outras tardes vividas em outros lugares
( nesse agora )
Limpo o cu com com o poema sujo
para chegar no poema limpo,
com o poema beijo tua boca
Eu estou na prenha praça Tiradentes também prenhe
ofertando espermatozoides e óvulos,
ovos e aves, João Caetano e Carlos Gomes.
Eu estou na praça Tiradentes onde só
e, acompanhado de nossa avó
Eugèní Mari Planchêz La Salle,
muitas vezes embarquei e desembarquei
do ônibus lotação 284 Praça Seca-Tiradentes
Meu caralho futuca as crateras
e os mapas para se chegar até a cratera
que tem minha marca, meus pés lentos ligeiros,
minha centopeia,
a lacraia e a melhor das vaginas da Terra.
Montado nos perfis das luas pétreas de escorpião, montado em você,
nas campinas em que eu via o curiango
no fim da tarde em seu voo
quase rasteiro contornando as touceiras de bambus
Todas as marcas que observo
e observei por essa existência,
multiplicadas estão nos quartos desse poema,
nas camas que estive com você
A Academia Brasileira de Letras,
o teatro Municipal,
o Centro Cultural dos Correios,
a Casa França Brasil,
o Centro Cultural Hélio Oiticica,
a Biblioteca Nacional,
a Casa que viveu Bydu Sayão,
o prédio que abrigou Cândido Portinari...
o Café Nice ( de Orlando Dias, Chico Viola...)
O centro do Rio de Janeiro, vai vendo;
é a primeira maravilha aos meus pacíficos olhos
espelhados na transparência da Confeitaria Colombo
Outro dia, estive em Maceió,
eu e meu amor agreste,
levei uma hora e meia no percurso
aeroporto Cruz das Almas,
fui observando as ruas e as pessoas,
os bairros mal arranjados onde todos se viram
como podem entre moradias improvisadas,
coqueiros, valões, vendas, arvores,
flores, outdoors, crianças nas ruas,
maxixes e quiabeiros
Outro dia, Teresina entrou no meu corpo,
assim que a porta do avião foi aberta,
assim que as luzes da pista verteram-se em serpentes,
serpentes filhas de dois rios, de duas pedras,
de uma única mulher
E os dois rios, e as duas pedras que agora são seis,
e o avião sumiu, voltou para o céu,
para os braços da mente do vento que escreve
cartas de vento no vento de meu amor
Hoje eu acordei um homem de cem trilhões de anos,
um ancião dotado de alta sabedoria,
um que não sabe nada,
um que descansa o queixo na palma da mão
e olha para os urubus vencidos
pelas correntes termais
do centro da cidade do Rio de Janeiro Flor
Nas origens do sol, não se lascam flores,
nem se trucidam legumes,
todas as léguas cumprem o que prometeram
ao solado dos pés, ao restante do ser
E no fundo do quintal ( no meio ),
havia uma árvore
que era chamada por minha família de turanja,
seus frutos, eram uma espécie de laranjas amargas,
usadas para se preparar compotas doces
A rua Marangá,
não sabia de meus dotes poéticos,
nada falava sobre o futuro
de todos que ali tinham suas vozes imitadas
pelo papagaio da vizinha,
pelas vielas do morro de São José Operário
E as cores que vinham da varanda,
moravam no meio das pernas
das meninas que brincavam com minhas irmãs,
no que ficava duro em mim
que era tímido e aclamado pelo silencio
Os anos não passavam na porta de minha casa,
um ano era mil anos, tanta coisa para se fazer,
para ser descoberto pela curiosidade
do menino que ainda para sempre não me deixou
Uma canetada de Edu Planchêz,
vale mais ou vale menos que,
um bilhão de canetadas do xerife dos xerifes
( que Bob Marley nos saúde )
Pois, ao perceber,
que esse estranho poeta,
saca de sua cavernosa caneta,
acenda alguma espécie de lenda,
algo que provoque estrondos,
arrepios, acessos de risos
Voltando ao ninho de cobras,
ao conflito dos que olham
e dos que não olham para o céu
Há dor sim, a dor que Ferreira Gullar...
vivenciou com suas crias,
mas aqui temos a Torre do Tesouro,
o veneno infalivelmente será vertido em remédio
E as negras nuvens que ora cobrem o lume,
ganham aos poucos um tom grená
tendendo para o lilas,
para o branco azulado, para a unidade intensa
E ela lavou a casa com os vinhos de Bordeaux
e deitou-se com Dionísio nas paralelas
do absoluto,
e 3 Reinos lhe foram ofertados,
3 reinos
3 reinos
2 anáguas, 1 sax e 1 trumpet
1 berro d'água
2 mamadas na teta dela
Entro na máquina do rugido das letras,
entro no entrar
Willian Blake viveu quase 90 anos
Chego ao teto da idade pleno
O poeta habita a pátria poeta
Na visão que ora tenho,
há uma Mulher Deusa Nua
no topo da árvore Bodhi
Na visão que ora tenho,
meu amor é essa arbórea mulher
A vagina é uma borboleta,
os lábios são as asas,
o grelo, seus olhos
Qualquer atividade envolvendo água,
tal qual produzir chuva,
terá resultados magníficos,
por isso,
abandone qualquer ideia
de vestir alguma roupa
bunda de fora,
pica tremulando às aragens
e aos piscares anais vaginais,
deusa da rua da carioca,
da rua das hortênsias
da rua dos amores,
da rua do pecado,
da rua marangá,
de suas íntimas pintas pretas
que um dia me mostrará
levantando o vestido
sentada na entrada do portão
de sua casa
Escrevo um poema nas paredes de teu ventre,
nos cenários de teus óvulos,
de outra forma o poema teu não nasceria,
por seres o mais profundo de todos os vulcões
gosto de compor o poema tirando ele de tuas vísceras
das entranhas cinematográficas
da fêmea ultra lilás do cio que és
Se sou o dono das palavras ( como diz),
você é a dona do meu embrião de homem cantor,
do homem que estica as mãos
e toca em você fêmea cor de planta,
cor de leite vivo
Se você grudar de verdade em mim,
o tempo para, saímos do tempo dos homens
e entramos no tempo das fadas
Sou um forasteiro, não moro na tua cidade,
você não conhece minha família,
não sabe de minha origem,
o fora de lógica corre por meus caminhos
No teu lugar, também temeria
Você fala em querer se perder,
você se perderia completamente, cuidado
Sou pássaro antigo,
há tempos cruzei os muralhas de Oreon
Represento o lado oculto estranho do estranho,
tem que ter coragem para estar comigo
Sei onde está essa pedra
bem no fundo do fundo do fundo do teu fundo
( deixo você achar e não achar que é sexo )
sou Nijinsky para sempre nu com uma mascara
sem cor e com todas as cores
Vou estudar é a tua anatomia,
esse é estudo que nossos organismos clamam
no dia de hoje,
o homem aqui não esqueceu
de teu vestido de ontem,
nem de tua descalcinha
Ai as palavras se vertem em outros líquidos
Lembrei do ovo
que no começo é apenas um líquido
que aos poucos vai se transformando num bico,
em ossos, asas, patas...
em seguida o ovo se quebra
e o pássaro voa para o céu
Te daria um banho de esperma
massagearia teus seios com meu leite visgo
é tesão, é penetrar tua vagina, e voltar no tempo,
na origem na nossa origem, na origem de tudo
sinta os seios coberto de esperma...e ore para as plantas,
para as flores das plantas
você sentiu a rajada do raio onde tudo nasce
o tesão é o nosso código

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