Por Edu Planchêz
O poeta é um homem profundamente comum. Incomuns são meus poemas que sempre propõem mergulhos no inesperado. O poeta nunca foi, e nunca será um marginal. Marginal é aquele que nega por pura indigência cultural o poeta que existe dentro de si. Marginal é aquele que está entorpecido de cultura inútil e vive preocupado exclusivamente com as aparências. Creio que tais criaturas, por pura falta de esclarecimento, se anulam & acabam anulando outros & outros & outros; aí eu entro, aí entra você, entra o Diego El Khouri, o Roberto Piva, o Irael Luziano, o Jim Morrison & o Gilberto Gil. Aí entra meu BUDA interior armado com o espírito do Rimbaud: aí eu afirmo que sou marginal, o maior de todos os marginais & grito: Renascença! Com as maiores letras possíveis. A Renascença não cristalizou-se em Michelângelo ou em Miguel de Cervantes & nem tão pouco se encerrará em mim. Não tenho olhos para olhar para o Brasil que está aí fora & sim para o Brasil que posso retirar de dentro de mim, se todos agirem assim, infalivelmente haverá no presente um futuro dourado entalhado por nossos talentos. Estou farto de covardes! Daqui posso ouvir as vaias dos acomodados: vergonha é ser aplaudido pelos medíocres. A Renascença do espírito humano declara revolução! Viva o homem! Viva a nova flor que brota dessa lama humana. "Erga-se & vá à luta!" Nas palavras de Bob-Marley-Dylan-Thomas arranco o sangue da maravilhosa primavera. Não quero andar à margem do ritmo da música que move todo o universo.
Eu, Antônio Eduardo Planchêz de Carvalho, sou a minha adorada inspiração, você o é também, sou um homem do meu tempo, do meu bairro, da minha rua, presto atenção em tudo que acontece dentro & fora do meu curioso ser. "Sin-to-ni-a", é a partícula mais importante num poeta-cantor (por que não dizer em todas as criaturas?), me sinto sintonizado com as luzes & as trevas das coisas, tenho mãos & olhos em todos os países & cidades, durmo nesta cama, mas moro no infinito, considero-me íntimo de qualquer criatura. Minha doce mãe, meu velho pai, meus irmãos, meu pequenino filho, minha avó Geninha, minha companheira, meus animais, plantas, namoradas & amigos... Vivo para as pessoas, vivo porque viver é o máximo: "Mais vale um dia a mais de vida do que toda a fortuna do universo". Adoro ser uma pessoa extremamente pública, como diz o príncipe Jorge Luis Borges: "Eu sou a caneta do mundo, a voz que atravessa os campos de batalha para ninar os homens". Denguiô (O Grande) lamentou profundamente por não poder nascer nessa época tão rica de motivos para se lutar. Magnífico viver agora nesse Brasil tão talentoso, de pessoas tão fortes. A miséria maior não reside nas ruas & sim dentro de nós mesmos. Afirma meu mestre Nitiren Daishonin "que o que está fora é reflexo do que está dentro". De repente aquele cantor do Ira! diz: "Eu vejo flores em você!"
Difícil é se manter íntegro diante de tantos apelos para as facilidades do "se dar bem". Se é difícil publicar um livro, lançar canções, digo que depende exclusivamente da Determinação do Sujeito. Se formos pensar em dificuldades, tudo é difícil; se formos levar em conta o impossível, o que dizer? Se você for bom, não faltará espaço para veicular sua obra. Se não conseguir em São José dos Campos, conseguirá no Rio de Janeiro, na França, no Oriente Médio, no céu ou no inferno. Tudo depende exclusivamente da coragem de quem se propõe a publicar um livro, grava e divulgar canções. São tantos os meios, se as editoras não dão abertura, criemos nossas próprias editoras, nossos meios. A iniciativa privada é uma virgem à espera daqueles que se habilitem a desvirginá-la. O Poeta, o cantor... não precisa de paternalismo, ele é o seu próprio pai-mãe, aliás, ninguém precisa de tal coisa, essa é a forma mais arcaica de pensar. Temos que rasgar para sempre essa idéia de que somos coitados-habitantes-do-terceiro-mundo. Um poeta que não tenha espírito de Guerreiro não é poeta. Um poeta que não lê, que não tem consciência financeira, que não admite ser criticado, deveria desistir, pois ser Poeta implica em muito mais que ser um mero escrivinhador-de-versinhos-romantiquinhos ou reclamatórios. Se você não for para cama com Allen Ginsberg nunca perderá o cabaço mental, se você não ousar, ir além, além, muito além dos jardins-de-sua-casa, é inútil querer parir algo.
"Os artistas deveriam determinar realizações de trabalhos que entrassem para a história da cultura do País".
"O poema é o caracol onde ressoa a música do mundo" (Otávio Paz). A poesia é a trança que liga esse mundo concreto ao mundo mágico aparentemente invisível. A poesia traz o homem de volta para ele mesmo, ou seja, esse homem que corre aturdido pelas ruas desse inicio de milênio está sendo chamado, a voz das florestas antigas saltitam nos versos que plasmo. Desfolho as pétalas das flores de meus-teus cabelos sobre teu corpo manchado por cartões de créditos. Se as pessoas soubessem do conhecimento que é oferecido através da poesia! Poucos são os poetas; o homem, para ser poeta, precisa sangrar o tempo todo. Se queres os seios da poesia tens que abrir lentamente os livros de pedra com a ponta da língua. Tu podes montar graficamente tetralhões de supostos poemas, mas se não fores despojado, disposto às últimas conseqüências da paixão, jamais, jamais, tocará no meu sexo, a poesia. Entendo por poesia algo assim mais vivo que o sol. Pobre de ti se ousares viver árido de poesia. Nunca terás uma boa digestão se não te alimentares com o sumo da poesia absoluta que as flores te oferecem agora.
Transcrevo aqui, dizeres do Pássaro Reinaldo do Sá: "Para ser poeta, é necessário suar tanto quanto um cavador de valetas, daqueles que encurvam as costas no sobe-e-desce da picareta, centenas de vezes por dia..." A princípio só posso falar da minha experiência. Deixe-me pensar... Na antigüidade, os poetas eram mais importantes que os faraós... Será que tenho consciência do significado de que é ser um poeta? Vivo no tempo dos homens mas, na verdade, trago comigo o tempo das águias & das borboletas; ser poeta para mim é ser guardião do belo. "Os artistas, como os sábios, possuem os olhos do Buda - Se não forem os do Budha, pelo menos os do Bodhisattva - Com a condição de que eles não se limitem a satisfazer a inteligência ou a sede de criação desses sábios e desses artistas mas que procurem, realmente, livrar os homens de sua miséria e de suas ilusões" (Daisaku Ikeda é o autor dessas últimas palavras que tomo como minhas).
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