O COLETIVO ZINE É UMA AÇÃO CONJUNTA. A PROPOSTA É REUNIR DIVERSOS FANZINEIROS OU CRIADORES INDEPENDENTES E PRODUZIR UM TRABALHO COLETIVO. CADA PARTICIPANTE CONTRIBUI DA FORMA COMO PUDER, SEJA NA CRIAÇÃO, MONTAGEM, EDIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, DIVULGAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO. O IMPORTANTE É SOMAR ESFORÇOS. E ASSIM MULTIPLICAR A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CADA AUTOR E DIVIDIR O TRABALHO. SE DER CERTO,CONSEGUIREMOS CHEGAR A NOVOS LEITORES QUE JAMAIS CONHECERIAM NOSSO MATERIAL SE O PROMOVÊSSEMOS ISOLADAMENTE. E NA PIOR DAS HIPÓTESES, AO MENOS TEREMOS UMA DESCULPA PARA INSANAS FESTAS DE CONFRATERNIZAÇÃO E LANÇAMENTO DE ZINES. ENTÃO, MÃOS À OBRA. MISTURE-SE.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Reunião de família




Reunião de família
Por: Fabio da Silva Barbosa

Estávamos todos em volta da mesa. Alguns nem viram o enterro, pois já estavam ali desde cedo. Tio Nico parecia um camarão. A cada gole da cachaça, ficava mais vermelho. Pediram mais uma porção de cu de galinha à milanesa e outra garrafa de cana. 
- Ele ia gostá de tá aqui com a gente. – Lamentou Caveirinha.
Rosita abriu o berreiro com grande escândalo e Tia Carmela interveio:
-Só fala bobagem, heim Caveirinha. Não fica assim, minha filha. Ele deve estar num lugar melhor que a gente.
Tio Nico já estava no estágio do filósofo e falou enquanto coçava a barba:
- Aquela ninhada parece que nasceu amaldiçoada. A menina sumiu no mundo com o açougueiro e dizem que já virou mulher da vida e tudo. O mais velho enlouqueceu... Agora Tiquinho se enforca.
Tio Nico estava certo. Aquilo parecia mesmo maldição. Roberval e Manú eram primos, casaram contra a vontade de toda a família, tiveram três filhos e, ao contrário do que todo mundo dizia, nenhuma criança nasceu com problema físico. Na verdade, teve a segunda que morreu pouco depois de nascer. Eram quatro irmãos.
- Desculpem o atraso. - Era a tal menina que tinha sumido no mundo. O pessoal demorou um pouco para reconhecer, mas ela se apresentou logo depois de acender o cigarro. – Sou a irmã do morto. Que cambada, heim? Nem lembram da filha dos primos. Pede o copo aí que tô precisando de um trago.
Tio Nico me olhou com aquela cara de “Eu não falei?”. Ele era do tempo em que menina não mostrava as canelas. O mundo devia ser assustador para alguém que não percebeu as mudanças acontecendo. Ele parecia ter adormecido durante décadas e de repente se deparado com tudo assim.
Rosita estava quase sob controle, mas suas mãos ainda tremiam enquanto apertava o lenço de pano contra o nariz e assoava com força. Mastigando mais um cu de galinha à milanesa, Seu Bartolomeu começou a falar sobre a tentativa de trazer o irmão do morto para o enterro.  
- Mentira! – Cortou a irmã recém chegada.- O desgraçado está abandonado naquele chiqueiro há anos. Ninguém aparece. Vocês não querem ter de ficar com ele em casa. 
Daí começou um falatório enlouquecido. Rosita voltou a chorar compulsivamente, enquanto os demais iam perdendo o controle durante a discussão sobre a responsabilidade dos parentes com o irmão do morto. Enchi meu copo de cana e peguei mais um cu no prato. Taquei bastante sal no bichinho e comecei a lembrar da última reunião de família que tivemos. Foi exatamente quando os pais do morto anunciaram o casamento. Tudo terminou em uma grande pancadaria. Depois deste dia, nunca mais houve uma grande reunião.
Viveram felizes durante os primeiros anos, mas, com a vinda dos filhos, as dívidas começaram a crescer e, como as coisas sempre podem piorar, Roberval acabou por ficar desempregado e os biscates demoravam a aparecer. Manú começou a se embebedar diariamente e Roberval, que sempre gostou de tomar uma, enveredou pelo mesmo caminho. Nesse meio tempo, o filho mais velho apresentou sérios distúrbios mentais. Quebrava a casa toda e até esfaqueou um vizinho que ele acreditava estar possuído pelo demônio.
Um belo dia, Roberval saiu para procurar emprego e não voltou mais. Manú se afogou de vez na cachaça e seu corpo acabou por não resistir. Nessa época, as crianças já estavam grandes e foram morar na casa de parentes. Ah, sim... Teve a que morreu no meio disso tudo, o que deu mais força as críticas dos parentes.
- Afinal, quem te avisou do enterro e como você nos encontrou aqui?
- Notícia ruim chega rápido.
A gritaria tirou-me do mundo das lembranças. Tomei mais gole da cana e voltei a mergulhar no passado. Voltei bem para o dia em que Tiquinho havia conseguido emprego de zelador em um prédio e foi morar no morro das redondezas. Pouco tempo antes, sua irmã já tinha dado no pé com o açougueiro. Passado mais alguns anos, o irmão, que já tinha esfaqueado o vizinho, matou Seu Bonaparte. Seu Bonaparte morava no fim da rua e veio reclamar: “O maluco matou meu cachorro!”. Nunca tivemos certeza se tinha sido ele que matou o cachorro, mas, com certeza, foi ele que matou Seu Bonaparte. Toda a vizinhança assistiu ao massacre sem conseguir parar as pauladas. Como ele já tinha histórico de violência e tentativa de homicídio (o caso da facada), o juiz mandou guardarem o infeliz no manicômio judiciário.
Tiquinho conseguiu se manter no emprego e virou freguês do puteiro que ficava no centro da cidade. Lá conheceu Teodora, por quem se apaixonou. O problema foi que Tiquinho começou a contar mais vantagem do que tinha no bolso e Teodora começou a apertar ele. Por fim, percebeu que não tinha mais de onde tirar dinheiro e Teodora não queria saber de homem pobre. Foi nessa que o último filho dos primos, com quem eu ainda tinha contato, se enforcou.
Parece que a menina, antes de fugir com o açougueiro, estava reclamando do comportamento de Tio Nico. Dizem que ele estava se aproveitando da coitada. Vai saber. Essa família adora um disse-que-não-disse. Uma coisa era certa: O Açougueiro tinha o dobro da idade dela e Tio Nico ficou cheio de raiva. Dizia que aquilo era imoralidade e que isso não podia ser. Nesse momento, um barulho alto me trouxe novamente para a mesa do bar. Todos estavam gritando em pé e a irmã do morto vinha com tudo, empunhando uma garrafa quebrada na direção de Tio Nico. O tumulto foi geral, mesas caíram no chão e alguns tentaram tomar a garrafa da mão dela. Levantei reparando que uma forte chuva havia começado a cair lá fora. Aconcheguei-me num canto e fiquei apreciando o pandemônio. Acho que vai demorar até termos outra reunião de família.      

   

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Coletivo Zine 2: versão (quase) final

Pessoal, confiram no link abaixo a versão quase final do CZ 2. Em relação a prévia anterior, fizemos algumas pequenas modificações de acordo com solicitações de alguns participantes. Então vejam se está tudo certo. Se quiserem mudar alguma coisa, só falar. Se não, a única pendência será finalizar a página 02, em que pretendemos colocar um índice e algum texto ou textos de apresentação desta edição. Assim, quem quiser escrever suas considerações está convidado, é só mandar. Fecharemos em definitivo a edição no início de novembro, quando enviaremos para a gráfica.

http://www.sendspace.com/file/o209vp  (clicar em "Click here to start download from sendspace")