Sem ponteiros
Por Fabio da Silva Barbosa
Um céu escuro
cinza e completamente sem luz
nesse frio insuportável
que congela nosso peito
e mata nossa alma
sufoca nosso grito
e ninguém entende
algo de tudo que falamos
e ainda tentamos explicar
mas já não temos tempo a perder
com ouvidos surdos
ou mentes enlatadas
Tudo o que resta
é o nada
sem cheiro, sem gosto e sem sentido
sem perspectivas e sem futuro
Nada mais faz sentido
E quando é que fez?
Os parasitas chegam pra sugar
o que ainda resta
e os carniceiros já aguardam os meus restos
e nossa existência inexistente
não permite que esqueçamos
do vazio que nos preenche
Estamos tão áridos
que nosso solo já rachou
Nada mais nasce aqui
nessa terra devastada
E até os cegos podem ver
mas eles também duvidam
Afinal
acreditar
virou apenas mais uma forma de mentir
É apenas a lembrança
dessas plantas
que há muito
já morreram
e não adianta mais regar
e não adianta querer dançar
se as pernas já caíram
Como ovos podres
eles tentam
nos convencer
que só querem ajudar
mas a vida já passou
e a memória se esqueceu
o tempo se arrasta
e a hora nunca chega