(Por Diego El Khouri)
Aos medalhões do século que grudam seus lábios
na consciência fétida
dos poetas-loucos
uma última constatação:
a mortelevebreve
arquejando os sonhos à sensação inóspita
que o desajeito da alma anuncia
é assim a minha vida todos os dias
a flor que beija a manhã
sem aviso prévio
picotada em inúmeras faces
a camada de ozônio destruída
na boca-bueiro capitalista
a barba reluzente escondendo agonia
da face em máscara medicinal
o barulho sujo dos carros à manhã nucpcial da dor
em fileiras hediondas escravos wave foda espinhos brancos
filetes de esperma
um canto que fere outro que alivia
essa é a rotina todos os dias
o velho-menino bêbado
nas dores do álcool falido
fermentando poesia
ando só sem pai nem mãe
nem ventre nem deus
solta volta enrola e volta
a epiderme religiosa
mergulhada num mar sem fim
prodigiosa imponênsia lúcida
os cortes as vísceras os rins
essa é a manhã que se insinua pra mim?
O COLETIVO ZINE É UMA AÇÃO CONJUNTA. A PROPOSTA É REUNIR DIVERSOS FANZINEIROS OU CRIADORES INDEPENDENTES E PRODUZIR UM TRABALHO COLETIVO. CADA PARTICIPANTE CONTRIBUI DA FORMA COMO PUDER, SEJA NA CRIAÇÃO, MONTAGEM, EDIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, DIVULGAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO. O IMPORTANTE É SOMAR ESFORÇOS. E ASSIM MULTIPLICAR A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CADA AUTOR E DIVIDIR O TRABALHO. SE DER CERTO,CONSEGUIREMOS CHEGAR A NOVOS LEITORES QUE JAMAIS CONHECERIAM NOSSO MATERIAL SE O PROMOVÊSSEMOS ISOLADAMENTE. E NA PIOR DAS HIPÓTESES, AO MENOS TEREMOS UMA DESCULPA PARA INSANAS FESTAS DE CONFRATERNIZAÇÃO E LANÇAMENTO DE ZINES. ENTÃO, MÃOS À OBRA. MISTURE-SE.
sábado, 24 de março de 2012
segunda-feira, 19 de março de 2012
VALENSI HARIEL
Nova colaboradora no Coletivo Zine. Mais uma goiana, a artista plástica,desenhista, Valensi Hariel. Eis aí alguma de suas obras:
sexta-feira, 16 de março de 2012
CracolândiaDisneylândia
CracolândiaDisneylândia
Por: Fabio da Silva Barbosa
fuma garoto a pedra
sonha sonhos de menino
a garota do mais tempo no vício
não pode mais sonhar
amigo palavra distante
talvez só mesmo o cachimbo
a toda hora chega gente
a toda hora gente vai
para onde estamos indo
para onde a gente vai
quarta-feira, 14 de março de 2012
Ela disse adeus
Chorei até cansar.
E dormi tentando esquecer,
a falta que ela me faz,
desde quando a vi morrer.
quarta-feira, 7 de março de 2012
terça-feira, 6 de março de 2012
A cagada
A cagada
Por:
Fabio da Silva Barbosa
Ele
enchia as mãos na vasilha repleta de comprimidos levando alguns a boca, sem
desviar os olhos da televisão, enquanto sua esposa folheava uma espécie de
álbum com diversos medicamentos de tarjas coloridas. Se demorava um pouco mais
nos de tarja preta. Eu tomava uma cerveja, enquanto pensava em parar de beber,
e fumava um cigarro, enquanto pensava em parar de fumar. Achei que era hora de
dizer alguma coisa e perguntei se não tinha problema tomar comprimidos como se
fossem jujubas. Ele desviou os olhos da tv lentamente e me encarou com um olhar
vazio.
- Isso
aqui não é brincadeira. Tomo porque minha médica receitou. Não se pode dar mole
com isso. É coisa séria.
- Mas,
ela sabe que você passa o dia inteiro tomando isso e que mistura com álcool.
Pensei
estar sendo impertinente, mas ele sorriu dizendo que lembrei de algo
importante. Ao vê-lo se dirigindo para a cozinha, pensei que ia pegar o álcool
de acender a churrasqueira que sempre estava por ali para dar umas goladas, mas
ele voltou com uma garrafa de Whisky.
Nesse momento, uma das crianças (algumas eram filhas e filhos dela,
outras dele e algumas apareciam por ali como por encanto) estacou a nossa frente com olhos
cansados.
- Tô com
fome...
Ele
cutucou a esposa que, desgrudando os olhos das páginas de seu álbum, disse
alguma coisa que não consegui entender. A menina, já habituada com esse
dialeto, parece ter entendido. Foi até o quarto e sentou na cama onde já haviam
crianças dormindo. A essa altura, a mãe tinha voltado a analisar as páginas do
álbum.
Inclinei-me
um pouco para o lado para soltar um peido, mas, para minha surpresa, senti um
quilo de merda enchendo minha cueca. Permaneci de lado, preocupado com o sofá.
Olhei em volta, mas parecia que ninguém tinha percebido. Tudo continuava como
antes. Ela olhando as páginas e ele fixado na televisão, revezando entre a
bebida e os comprimidos. Me inclinei para frente, apoiando o copo sobre a mesa.
O movimento me fez perceber que a cueca estava mais cheia do que imaginava e
provavelmente já tinha deixado passar seu recheio para a calça. Voltei
rapidamente para a posição meio que de lado. Não parava de pensar no sofá. O
cheiro estava tomando conta do ambiente e eles pareciam não se dar conta.
Fui assaltado por algumas cólicas. Dei um pulo em direção ao banheiro.
Acabei de
esvaziar o intestino e fui lavar a roupa na pia. Tava tudo uma merda só. Foi aí
que começou uma barulheira sem fim. Vozes estranhas berravam, crianças choravam
e tudo parecia estar quebrando pela casa. Pensei em abrir a porta, quando os
tiros me fizeram mudar de idéia. Pulei pela janelinha que dava para o quintal e
corri para a rua na madrugada fria. Percorri alguns quarteirões a toda
velocidade até dar de cara com o carro da polícia dobrando esquina. Pensei
muito rapidamente no que dizer. Não seria boa idéia contar que estava na casa
de meus amigos comedores de comprimidos... Não deu tempo de pensar em mais
nada. Lembrei que estava completamente nu da cintura para
baixo.
- Para
aí, malandro!
Daí por
diante, passou tudo muito rápido e fui jogado aqui. Algum vizinho me viu
pulando sem roupa para a rua e resolveram que era melhor me guardar aqui até
tudo ficar esclarecido. Como estamos completamente a mercê disso que eles
chamam de justiça, não me resta outra opção até julgarem que eu possa sair.
- Isso,
se eles lembrarem de você. Já era para eu ter saído a mais de uma semana e
ainda não me soltaram.
- E você
não tentou falar com ninguém?
- Tentei,
mas o carcereiro me quebrou duas costelas e disse que se não me aquietasse iria
me deixar aqui mais um ano.
- E seu
advogado?
-
Advogado? Dá para ver que você não conhece como funciona isso aqui. Advogado é
para quem tem dinheiro. A gente que conta com defensor público tem de contar
com a lembrança dos outros.
- Meu
julgamento já foi adiado duas vezes e ninguém vem me visitar.
- Eu já
passei por aqui algumas vezes e sei bem como é isso que vocês estão
falando.
- Quem é
o cara da cagada?
- Opa...
Sou eu.
- O
hospital disse que a garotinha que tinha sobrevivido acabou de morrer e até
agora você é o único suspeito detido. O delegado mandou avisar que o melhor a
fazer é entregar seus camaradas.
- Mas...
- Não
precisa falar nada agora. Daqui a pouco Carinhoso vai vir te
buscar.
Pelo
visto, a cagada estava apenas começando.
quinta-feira, 1 de março de 2012
RESQUÍCIOS DO NADA
(POR DIEGO EL KHOURI)
COMI
RESQUÍCIOS DE SEU
OLFATO
TRAVEI A INÚTIL BATALHA
DO
NADA.
VI O QUANTO DEUS É OTÁRIO
POR TER FEITO O HOMEM
TÃO ORDINÁRIO
NOS RETRATOS SISTEMÁTICOS
DAQUELES QUE REZAM SEM SAPATO
VOLTEI
MÚLTIPLO ESCLEROSADO
ROENDO
OS
CACOS
DO
F
R
A
C A
S
S O
QUE INUTILMENTE
OS ANOS REMENDAM
NA AVENTURA RIDÍCULA E MESQUINHA
DO
NADA.
COMI
RESQUÍCIOS DE SEU
OLFATO
TRAVEI A INÚTIL BATALHA
DO
NADA.
VI O QUANTO DEUS É OTÁRIO
POR TER FEITO O HOMEM
TÃO ORDINÁRIO
NOS RETRATOS SISTEMÁTICOS
DAQUELES QUE REZAM SEM SAPATO
VOLTEI
MÚLTIPLO ESCLEROSADO
ROENDO
OS
CACOS
DO
F
R
A
C A
S
S O
QUE INUTILMENTE
OS ANOS REMENDAM
NA AVENTURA RIDÍCULA E MESQUINHA
DO
NADA.
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